Sei o quanto é difícil fechar a primeira página de um jornal.Tive essa experiência no Estadão e lembro-me perfeitamente da aflição de balancear as noticias mais importantes, as fotos, cada título, cada legenda. Existe um padrão e é difícil sair dele. Claro que às vezes, fogem à rega com uma bossa aqui, outra ali. Aumenta uma foto, um título que ganha as seis colunas, uma sacada engraçadinha. Não e fácil. O jornal francês Libération, que acompanho desde os idos de 1968, é um exemplo de ousadia. Corre a boca pequena na redação do Libé, como é conhecido, que os jornalistas ainda guardam na cabeça aquele ditado do seu fundador, Serge July: “Em time que está vencendo é que a gente mexe”. No Brasil temos a capa do popular e carioca Meia-Hora que muitas vezes arranca gargalhadas pelo deboche, pelo trocadilho, pela ousadia. Nos últimos dias, o jornal Estado de Minas tem caprichado na criatividade, fato até mesmo copiado tal e qual por revistas menos escrupulosas. No domingo (10), o jornal O Globo resolveu ousar. Esqueceu o padrão gráfico para dar lugar a um lamento em forma de nomes e número: 10 mil mortos pelo coronavírus. Capa que vai entrar para a história do Jornalismo.
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