Imagine de repente a gente virar um drone, ultrapassar a janela, alcançar uma altura imune ao corona, observar a vida lá de cima. Sobrevoar São Paulo inteira, do Jardim Europa ao Jardim Ângela. Queria ir até Cataguases, sobrevoar a Praça Santa Rita. o campo do Flamenguinho, o Rio Pomba. Chegar a Belo Horizonte, observar a avenida do Contorno, as ruas simétricas dentro dela e o caos do lado de fora. Rio de Janeiro, a praia de Ipanema, a Praça Nossa Senhora da Paz, a Cena Muda, passar raspando nos braços abertos do Cristo sobre a Guanabara e chegar a Duque de Caxias. Queria sobrevoar São Miguel dos Milagres, o Mercado Ver o Peso de Belém do Pará, o Teatro Amazonas. Queria ir a Paris só pra ver se a Place des Voges já está florida, ver os meninos correndo no Jardin du Luxembourg, as verdejantes Tulherias, como dizem aqui. Queria sobrevoar os canais de Amsterdam, as plantações de tulipas, a estátuas vivas na Rambla de Barcelona, a Sagrada Família, o Holand Park de Londres, o design de Viena, as ruas de Abidjan onde as mulheres vendem sopa de pimenta, ver de perto as ruínas de Atenas, a Ponte Vecchio de Florença, o Mercado de Montevidéu, a beleza dos balões no céu da Capadócia, os cubanos dançando salsa nas praças públicas de Havana, queria sim chegar ao Museu da Memória em Santiago do Chile.