PRELÚDIO

Hoje eu não vou sair de casa não. Quero preguiça, ajeitar o altar, raspar a parafina  acumulada, renovar a vela, riscar o fósforo. Perdemos Dom Pedro Casaldáliga, perdemos Aldir Blanc, Nirlando Beirão, Moraes Moreira, Enio Moricconi, Chica Xavier, Gilles Lapouge, Antônio Bivar, Rodrigo Rodrigues e outras cem mil pessoas neste 2020, o ano que devia terminar logo. Hoje me resta ir pro sofá, pra rede, pro colchão. Molhar as plantas, catar as coconilhas escondidinhas nos galhos, passar azeite nas folhas de ficus para que elas sobrevivam brilhantes, firmes e fortes. Hoje é domingo, vou ficar distante do noticiário, ao menos uma vez na semana. É domingo aqui e já quase segunda no Vietnã. Hoje é dia de escutar o Jardim Secreto de Claudio Santoro, os cantos afro de Matheus Aleluia, hoje é dia de ouvir Hamilton de Holanda e Mestrinho interpretando Drão e o Trem das Onze na sanfona e no violão. Drão, os meninos são todos são e eu não posso ficar nem mais um minuto sem você. Sinto muito, amor, mas não pode ser. Se eu perder esse trem que passa agora às onze horas, só amanhã de manhã. 

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