Sexta, sábado, domingo? Que dia da semana eu vou criar coragem e sair às ruas? Trombar nas pessoas, sentar lado a lado no ônibus, perguntar se ele passa na Paulista, responder que horas são, tossir, espirrar, abraçar, beijar. Eu tenho medo de viver o velho normal. Entrar no elevador já cheio e lembrar daquele velho anúncio do desodorante Van Ess: sempre cabe mais um. Quando vou voltar ao Itaquerão com Clarice e ouvir ela gritando bem baixinho vai, timão! Que dia vou voltar ao fogão domingo cedo pra prepar aquele couscous marroquino pros amigos, que vão chegando e chegando e enchendo a sala da minha casa? Que dia vou pegar o primeiro avião com destino a felicidade? Que dia vou voltar a Vrises, aquele povoado no interior da Grécia onde morei, onde colhi abricôs e limões sicilianos no pé? Será que vai dar tempo de voltar a fotografar as pessoas no metrô, como faz minha amiga Patrícia Mesquita? Sabe de uma coisa? Quero espiar as bancas de jornal, comer um pastel de feira, quero comer um pedaço de abacaxi nos carrinhos de frutas de Higienópolis, quero caminhar até a Livraria Martins Fontes e comprar a nova Edição do livro Admirável Mundo Novo.
[ilustração/ Obra de Antonio Berni]