Nesses tempos sombrios, agora cheios de tons de cinza, quisera ser pintor. Ter uma palheta profissional, tubos de tinta de todas as cores, vidrinhos de ecoline, bastões de pastel, guache, uma caixa de lápis de cor daquelas de 198 cores, oito tons de amarelo, nove tons de verde, cinco tons de creme. Quisera eu estar enfurnado num ateliê esboçando corvos nos campos de girassóis, catedrais, anjos voadores, mulher de olhos fora do lugar, cabras e vacas. Passar o dia respirando aquele cheiro, criando combinações de cores como Mark Rothko, imaginando mulheres esguias como Paul Gaughin, pêssegos na fruteira como Paul Cèzane, queria ter a simplicidade de um Joan Mirò ou a fúria de um Jackson Pollock. Quando menino sabia desenhar rã, bambu, galo e rato. Fiquei nisso. Tentei, mas morri num quadro medonho que fiz e que chamei de Monkey’s Instalation. Ou, quem sabe, ser cantor, quem dera ser tenor, quem sabe ter a voz igual aos rouxinóis.
[ilustração/Obra de Joan Mirò]
Villas,gosto de sua crônica e de suas histórias,com saúde e fôlego literárias.Grato.Tenha um dia cheio de coragem e alegria dentro dessa realidade que muito nós assola.A propósito,esse quadro é seu? Abraços
Caro Marco Antônio. Obrigado pela leitura. Foi falha minha não colocar o crédito. Já está lá. É uma obra do pintor catalão Joan Mirò.