Queria eu ter a simplicidade de um Leonilson, acordar cedo, passar a mão num pedaço de linho e bordar frases, desenhar corações que ficaram perdidos no meio do caminho, pregar botões, uns diferentes dos outros, fazer uma composição. Queria eu ter esse minimalismo, com a agulha e linha escrever devo, não devo ou quero, não quero. Desenhar flores, sapatos, mapas, malas, velas, estrelas, molas. Bordar uma cabra envolta em coroas e escrever a cabra expiatória bem mais magra observa o patético espetáculo da monarquia. Para isso, preciso abandonar todo o noticiário dos jornais, das revistas, da televisão, da web. Me recolher numa verdadeira quarentena e esperar o pesadelo passar. Onde você for eu irei com você, escreveu ele num dia não sei se de céu azul de sol, de céu cinza chumbo de chuva. O vírus era outro e não esse que mata mais de mil pessoas por dia. Mas levou Leonilson. Só me resta ficar aqui chorando com os seus botões.