Venho dessas famílias que a gente diz: na minha casa sempre teve cachorro. Sim, sempre teve cachorro. Foram quatro: Jolie, Tupi, Pink e Fly. Cachorros soltos dentro de casa e no terreiro, daqueles que se engasgavam comendo osso de frango no domingo depois do almoço.
Gostamos de cachorro desde o Rin-Tin-Tin, a Lassie e o Lobo.
Ainda não havia petshop, ração, brinquedinho, caminha, xampu, nada disso. Bebiam água numa lata de goiabada da Cica e iam uma vez por ano ao posto da Prefeitura pra vacinar contra a raiva. E só.
Depois de muito lutar para não ter um cachorro, na quarentena adotamos o Canela. Vira-lata, foi abandonado num Posto Ipiranga no meio da estrada. Tive logo a ideia de dar o nome a ele de Guedes. Ouvi um sonoro não de todos aqui. Seria muita humilhação para ele.
Chegou Bob e ganhou um novo nome, Millôr, que durou umas duas horas. Ficamos lembrando de nomes de cachorros e quando ele ouviu Canela, abanou o rabo e veio todo serelepe. Virou Canela imediatamente e sempre atendeu por esse nome. Acreditamos que ele era Canela desde pequenininho.
O Canela é o vira-lata mais nobre do pedaço. Senta esguio esperando eu colocar o tênis, pegar o saquinho plástico, a máscara, a coleira pra passear.
Chegou aqui sem saber o que é elevador. A porta abria e ele ficava olhando, não entrava. Agora só falta apertar o botão S1 quando saímos pra descer.
Aprendeu a não fazer xixi na garagem, sabe esperar a hora do passeio e – acredite – pede colo depois de nos acompanhar no café da manhã. Fica observando a mesa, sem sequer enfiar o focinho onde não foi chamado. A gente aqui em casa vive dizendo que se fosse fêmea chamaria Gilda, porque não existe cachorro como Canela.
Metódico, dá nove horas vai para o cômodo onde funciona o home office da Paulinha e fica esperando a hora do trabalho dela. Divide as atenções durante o dia. No final da tarde vem pro meu escritório e deita na caminha esperando a hora do petisco.
Paramos de dar ração e agora fizemos a comida dele. Descobrimos que o açougue do supermercado tem uma carne que leva o nome de retalho. É um mix de carne, pedacinhos que sobram daqui e dali na hora do corte. Do acém ao filé mignon, do patinho ao colchão duro. A comida é simples e fácil de fazer. Sem gordura, sem sal e ele ama. Abandonou a ração de vez, não suporta o cheiro. Será que criamos um monstro?
O Canela alegrou nossa vida nessa pandemia. Tem horas que ele parece o Brian da Family Guy. Dá impressão de que vai sentar na mesa conosco e discutir filosofia. Canela não morde, late só na rua e adora brincar com os outros cachorros. Se deu bem com a Shakira e a Cher, das nossas filhas. Acho que ele percebeu que estava escrevendo sobre ele nessa manhã de quinta-feira. Só acordou agora e veio abanando o rabo, feliz da vida.
Te amo Alberto Villas…estive em Florença na esperança de te achar…mas não tive essa felicidade
Beijos
Excelente crônica! Realmente cachorro é tudo de bom,sobretudo os sem raça definida
Só faltava o Canelinha para a família ficar completamente feliz! Demorou mas ele veio mudar tudo nessa casa de portas abertas e generosas nessa pandemia que a fechou (por um tempo só!).
Já amo o Canela e não vejo a hora de apresentá-lo à Chiara e Rita Lee, serão certamente grandes e maravilhosos amigos, como seus donos!
É muito especial acordar, olhar ao lado e já ver uma cabecinha esticada para você! Todo o amor ao Canela, que trouxe uma lufada fresca nesse pandemônio que vivemos. Viva o Canela!
Adorei a crônica. Publiquei meu comentário no FB falando da minha Nina, que também mudou minha vida nesta pandemia.