Ele se sentia pequenininho perto dela, em todos os momentos do dia. Desde que acordava e, de pé, via na penumbra seu corpo enorme tomando conta de oitenta por cento da cama. Corria o dia inteiro assim, ele minúsculo, ela gigante. Nos atos, nos fatos, nas sacadas pra resolver grandes e pequenos problemas. Ele escrevia poemas enquanto ela olhava pela janela e sabia que a chuva vinha. Fechava as janelas, ele se recolhia. De tempos em tempos iam ver o mar. Ele virava um grão de areia e ela, zambetando pra lá e pra cá, uma maria farinha.
[Alberto Villas, com ilustração de Isabella Mazzanti]