Pequenininha, seis meses e pouco, tinha ido na escolinha dois dias somente, quando a Caminhar fechou. No primeiro dia, estranhou, chorou na porta quando a tia a pegou nos braços. Entrou chorando, batendo pernas e braços, partindo o coração da mãe. Quando a buscou no final da tarde, ela dormia profundamente. Bochechas vermelhas, suava. No segundo dia, olhou assustada quando enxergou o portão vermelho da escola, mas foi nos braços da tia. Esboçou choro, mas ficou apenas na ameaça. Nos dois dias que frequentou a escolha conheceu o Benjamim, o João Pedro, o Cícero, o Lucas. Conheceu também a Maria Eduarda, a Clarice e a Sofia. Não houve terceiro dia. Ela já está com um ano e meio, já anda, já come uma banana inteira, já esboça palavras, dessas comuns, mamão, papai, auaí. Tudo que vê, aponta com o indicador e fala ó! Brinca a manhã inteira, depois do almoço, cai no sono e vai até quatro, quatro e pouco. A mãe aproveita pra trabalhar, o pai também. Quatro e pouco acorda mal humorada, procurando a chupeta e não quer nada que um dos dois oferece. Nessa hora, não quer nem saber da Galinha Pintadinha de pelúcia, tampouco do tico-tico que ganhou no Natal. Ela não sai de casa e olha assustada quando os pais colocam máscara. Faz cara de choro, mas na verdade eles só colocam máscara para ir na portaria buscar encomendas que chegam, várias por dia. Ela nunca mais viu uma criança ao vivo e em cores. Nem deve lembrar do Benjamim, do João Pedro, do Cícero, do Lucas, da Maria Eduarda, da Clarice e da Sofia. Seu mundo é uma mãe, um pai, um tico-tico, um porquinho de borracha que quando aperta faz coing coing, além da Galinha Pintadinha de pelúcia.
Gostei muito da Crônica O mundo da criança. Estou trabalhando num projeto muito ambicioso para as crianças que não podem assistir as aulas, nem conviver com os seus companheirinhos da escola por causa do Covi19. Um dia que você possa, porque sei que é super ocupado conversar com você via WhatsApp e explicar melhor o meu trabalho atual. Um abraço.
A crônica foi ampliada e será publicada no site da revista Carta Capital, na sexta-feira. Abraço, Lillian