O SOL DE SEGUNDA-FEIRA

O toma lá, dá cá, tem uma hora que cansa

Na foto em destaque na primeira página, o brilho do skate

Queiroz (lembra dele?) resolve atirar

Um refresco em São Paulo

Na capa da Ilustrada, as drags se preparam para brilhar na Bienal de Arte

O otimismo do Estadão

A corrupção verde-amarela

O drama do frio em São Paulo

O momento olimpico na primeira página do Estadão

A volta às aulas

A volta dos que não foram

O momento olímpico na primeira página do Globo

A tragédia do verão alemão na capa da Der Spiegel

A capa da revista de fim de semana do jornal espanhol El País

A literatura latino-americana na capa do suplemento cultural Babelia, do El País

Na capa da revista semanal de informação portuguesa, um caloteiro vivendo numa boa no Brasil

Na capa da IstoÉ, um general em apuros

Estreia hoje às 9 horas da manhã, Conexão GloboNews, o novo telejornal do canal. O nome não foi nada original. Amanhã falaremos da estreia.

Ando sonhando com o dia em que, depois de rodar a vinheta, o apresentador do telejornal das oito e meia vai dizer, como disse Tom Zé em seu primeiro disco de 1968: Não se morre mais, cambada!

Aí, eu vou retirar a máscara, respirar fundo, vestir uma camisa listrada e se alguém perguntar por mim, diz que fui por aí.

Vou atravessar a rua, correr até o ponto de ônibus, fazer sinal pro motorista do Paraíso e seguir até a Avenida Paulista, onde quero parar de banca em banca, bancas que ainda vendem jornais e revistas.

Quero fotografar as pessoas lendo dentro do coletivo, perguntar se estão gostando do livro, saudade disso.

Quero comprar a Piauí, a Quatro cinco um e a New Yorker, se é que as bancas da Paulista ainda vendem revistas gringas.

Ah, eu quero comer uma língua à milanesa com purê de batatas no Le Jazz, fotografar o reflexo do sol nos arranha-céus, passar na Travessa pra saber se já chegou o livro com todas as letras de Paul McCartney e quanto custa Todos os Contos, de Júlio Cortázar.

Quero tomar um cafezinho na Cristallo do Shopping Higienópolis, pegar o primeiro avião com destino a Cidade Maravilhosa, ver o mar do Leblon, o por do Sol no Arpoador, atravessar com medo a Linha Vermelha.

Quero ir a Belo Horizonte, a minha BH, ver o Raul falando, dando sua opinião sobre tudo, me explicando o nome de cada trenzinho da sua coleção.

Quero comer uma fatia de abacaxi pérola no Mercado Central, comprar queijo da Canastra, uma lata de bananada da Dona Zélia, um pacote de balas Chita, beber um Mate-Couro gelado.

Voltando pra São Paulo, quero ir na Praça John Lennon ver se o abacateiro que lá plantei sobreviveu a esse tempo todo sem chuvas, sem temporais.

Quero doar algumas cestas básicas na Brasilândia, em Paraisópolis, Jardim Ângela, não importa. Promessa de pandemia.

Quero sujar o meu All Star branco na poeira fina da periferia, ouvir a voz anunciando em inglês que chegamos na Consolação Station na linha amarela do metrô.

Quero passear pela Feirinha da Benedito, procurar entre mil vinis, o Fa-Tal da Gal, o Isca de Polícia do Itamar, o Expresso 2222 do Gil, o Cidade Oculta do Arrigo Barnabé.

Quero sentir o cheiro das flores na Doutor Arnaldo, fuçar os sebos de Pinheiros, quem sabe achar os poemas de Julian Beck e Judith Melina?

Quero ir no SuperVille pra saber se chegou a San Pelegrino de laranja, a Fanta Pêssego, a Coca-Cola Spicy pra drinque, vinda da Bulgária.

Quero ir na casa dos amigos, rever os afilhados, comer aquele frango fricassé de Dona Elide, aquele pão com linguiça do AC, aquele tzatzike da Olga Vlahou.

Quero ir longe. Colher figos em Vryses, no Peloponeso, saborear uma bisteca fiorentina no mercado de Florença, rever Paris, comprar ovos de pata no Whole Foods de Londres.

Queria acordar, ligar a TV e nunca mais ouvir as palavras presencial, Astra Zenica, primeira dose, Coronavac, curva de mortos, Pfeizer, UTI, Janzen, Flexibilização, Sputnik, máscaras.

Que bom seria nunca mais ouvir nomes como Jair Bolsonaro, Eduardo Pazuello, Onix Lorenzoni, Paulo Guedes, coisas assim.

Crônica publicada no site da revista Carta Capital

cartacapital.com.br

 

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