A barraca de coco da Val está localizada num local estratégico de Natal. Debaixo de um frondoso cajueiro, bem na entrada da passarela de pedras que nos leva até a Fortaleza dos Reis Magos. Debaixo de um sol de 40 graus, não tem uma alma viva que não faz um pitstopop ali para tomar uma água de coco estupidamente gelada depois da visita. Val, aos 62 anos de idade, vende também refrigerantes – Coca-Cola, Fanta e Guaraná Jesus – além de garrafinhas de água, quase congeladas. Debaixo de um isopor, fica a gata Bandida, que não é da Val, mas é sempre acolhida por ela. Gata folgada, que fica no lugar mais fresco do pedaço, de vez em quando recebendo uns pingos gelados no corpo, que caem do isopor suado. Ela tem trabalhado duas vezes por semana naquele ponto, aos sábados e aos domingos, e nos feriados prolongados. Mas já está se programando para o batente todos os dias quando a fortaleza, em obras, voltar a abrir. Val é uma mulher nordestina, forte, guerreira, batalhadora, como todas. Não, ela não mandou vídeo para o Jornal Nacional explicando o Brasil que eu quero. Mas ela sabe muito bem o Brasil que ela quer. Está certa de que quem votou em Bolsonaro não se surpreendeu. Todo mundo sabia que esse homem é do mal, uma espécie de capeta. Sem que ninguém perguntasse, ela foi logo dizendo: ano que vem eu voto em Lula, na minha casa todo mundo é Lula e sempre vai ser. E não é só lá em casa não, esse pessoal todo aqui, disse ela abrindo os dois braços e praticamente abraçando a orla, apinhada de vendedores de coco, de gelo, de camarão, de caju, de guaraná Jesus. Não sei se Val do Coco gravasse um vídeo explicando o Brasil que ela quer, iria ao ar no Jornal Nacional.
texto & fotos/Alberto Villas