O SOL DE DOMINGO 29.01.23

Atravessamos a semana acompanhando o drama dos Yanomamis, dia após dia. Imagens de pequenos indígenas cadavéricos, nessa vida há quatro anos. Cercados por garimpeiros bandidos que surrupiam o ouro e envenenam a águas das comunidades. Quatro anos porque abriram as portas para os garimpeiros, cortaram verbas para remédios e assistência. Eles nunca gostaram de indígenas.

Aquelas imagens nos fizeram lembrar Biafra dos anos 1960 nas páginas da Life, a Somália dos anos 1980 na Time. Tempos sombrios de fotografias em preto e branco. A dor agora tem cor.

Deu gosto ter feito o L e ver o socorro chegar. Aviões levando mantimentos e remédios, voluntários deixando pra trás o conforto das metrópoles e descendo naquele lugar que muitos chamam de fim do mundo. Na verdade, foi o começo.

Hospitais de campanha montados, yanomamis sendo levados para hospitais da capital. Não fosse aquele L que insistimos em fazer no final do ano passado, o destino desse povo era o buraco. Uma reeleição seria o pontapé final para o genocídio total.

Agora temos até um Ministério dos Povos Indígenas do Brasil!

Por aqui, aqueles que foram destruir a democracia a pedaços de ferro, pau e pedra, estão sendo presos um a um. Inclusive dona Maria de Fátima Mendonça Jacinto Souza, a Fátima de Tubarão, a patriota bolsonarista raiz que, suada dos pés a cabeça, gritava: quebrar tudo! quebrar tudo!

Novas imagens mostraram que a polícia estava de boa, relax, prova de que esse tal de Ibaneis Rocha não pode voltar. O ex-presidente da República, já considerado o mais medroso e cagão presidente da História do Brasil, continua escondido em Orlando, em companhia do Pateta e dos Irmãos Metralha, quiçá do Tio Patinhas.

Repito: desculpe a poeira, o barulho e o transtorno. O Brasil está em obras.

A capa de hoje é uma obra da artista colombiana Diana Beltrán Herrera, 36 anos, radicada em Bristol, no Reino Unido. É lá que ela faz suas esculturas em papel, além de fotografias e instalações. Já fez trabalhos para a Disney, Target, Harper Collins, entre outros. Além da capa e do pássaro voando acima, mais abaixo, você vai ver outros trabalhos dela, além da fotografia da jovem artista, que O SOL venera. 

Eu não me lembro precisamente, acredito que era meado dos anos 1990, quando eu resolvi comprar um fax. Cheguei em casa empolgado e fui logo instalando, me sentindo o Senhor George Jetson.

Era lindo, cinza, um Panasonic, com etiquetas para dez números mais chamados. O fato dele ter uma secretária eletrônica embutida, era o máximo. Procurei saber quem já tinha um em casa, só pra passar um fax.

Quando soube que era possível receber o extrato bancário por ele, não dei mais sossego ao Bradesco. Todo dia eu ligava pedindo o saldo, o extrato, mesmo sem ter mexido na conta bancária.

Ele foi instalado no meu escritório e eu já fui logo avisando pra faxineira tomar muito cuidado com ele. Limpar, somente com um paninho úmido, nada de álcool.

Além do extrato bancário diário, eu costumava passar pedidos médicos para exame para o plano de saúde, além das receitas homeopáticas das minhas filhas para a farmácia O Alquimista.

Eu ficava encantado quando ouvia aquele barulhinho que anunciava que o fax ia começar a chegar.

Pensava muito no meu pai, o rei da novidade, como ele se sentiria se ainda estivesse vivo ao ver um fax. Ele que tinha faca elétrica, telefone sem fio e cartão do Diners quando ninguém ainda tinha, ia ser o primeiro a comprar um fax.

Antes, ia ter morrer do coração ao ver aquele papel saindo do telefone.

Outro dia, eu comentei aqui em casa que ia me desfazer do telefone fixo. Foi quando todos perguntaram:

– Mas e o fax?

Pensei com os meus botões: gente! Tem uns cinco anos que eu não passo nem recebo fax. Bati o pé e me desfiz dele.

Primeiro, tirei o Panasonic da prateleira. Foi um alívio ver aquele espaço livre para mais livros. Hoje, caberia folgado a Enciclopédia Negra, todos os cinco livros sobre a ditadura do Elio Gaspari e ainda a biografia do Fernando Pessoa.

Quando eu disse me desfiz dele, foi apenas desligar da tomada e colocar no chão da sala, para levar para uma dessas lojinhas de conserto, comuns aqui na Lapa.

Foi aí que começou a minha saga. Fui em cinco lojinhas pra tentar vendê-lo por qualquer merreca e o que ouvi, foi:

– Fax? Não quero nem de graça! Não tem saída. Tenho dois aqui e ninguém quer comprar. Nem mesmo os lixeiros querem levar.

Com o aparelho dentro de uma sacola de cânhamo do SuperVille, continuei a peregrinação.

Na segunda loja:

– Pelo amor de Deus, não me fale em fax.

Na terceira:

– Quem é o maluco que vai querer me comprar um fax? Quero não!

Na quarta:

Fax? Não, não, não, não interessa não.

E na quinta:

O senhor já tentou um ferro-velho?

Fiquei arrasado e desisti. Queria agora dar de graça, mas ninguém queria. Até que o meu filho mais velho ligou e disse:

– Pai, estou pensando um criar uma espécie de museu da tecnologia, você não tem nada aí pra doação?

– Yes! Disse eu. Tenho um fax!

– Fax? Que beleza.

Foi assim que despachei o Panasonic para um Belo Horizonte.

[www.cartacapital.com.br]

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