Sem mar na minha terra, sentia muita falta dele. Queria saber o que havia se mergulhasse vinte mil léguas submarinas, os corais, os peixes coloridos, os pequenos monstros que não nadavam, andavam. Aquelas lagostas enormes, camarões pitu. Ouvia as canções de Caymmi em discos de 78 rotações que o meu pai colocava na vitrola, enquanto fazia a macarronada do domingo. Imaginava que era doce morrer no mar, e o mar quando quebrava na praia, era bonito, sim era bonito. Uma vez por ano víamos o mar, mar de Copacabana, nas férias de verão. O meu pai nem bem tinha chegado já contava aquela piada de mineiro, a cada janeiro: “Encher isso d’água não foi nada, o difícil foi sargá isso tudo”. Menino ainda, devorei O Velho e o Mar no quase escuro de uma lâmpada de 40 velas de um abajur em cima do criado mudo. Na era dos festivais, torcia por Edu na finalíssima: eh, tem jangada no mar, eh eh eh… hoje tem arrastão, todo mundo pescar, chega de sombra, João. Numa dessa férias, levei pra minha aldeia uma garrafinha de Grapette cheia de água do mar. Ela ficava em cima da minha escrivaninha, mas com o tempo foi ficando turva, muito esquisita. Fedia, cheirava mal. Joguei no lixo com vasilhame e tudo. O meu prazer era ver e sentir a água viva do mar de Copa. Daquele mar sem fim, que a gente não via o horizonte que, meu pai repetia, lá longe é a África. Então entrei num curso para aprender a nadar e poder atravessar sete mares só pra ver aquela morena de Angola que levava o chocalho na canela, só pra te ver Gabriela.
Categoria: Crônicas
QUERO IR PARA PARIS, PARIS NÃO HÁ MAIS
Fico aqui pensando com os meus botões se um dia vou voltar a pegar um avião com destino à felicidade. Chamo de felicidade, Paris, a cidade que conheço na palma da mão, onde morei por quase uma década em tempos sombrios por aqui.
A Paris que eu sonho voltar um dia e não sei se vou realizar, também está triste, com poucas pessoas circulando de máscaras pelas ruas, os cafés fechados, inclusive o Café de Flore onde, uma vez por ano, ia tomar um chocolate quente e comer um croissant au beurre.
Eu era apenas um rapaz latino-americano sem dinheiro no banco, sem amigos importantes e vindo de Belo Horizonte. Os minutos que passava ali sentado uma vez por ano me bastavam. Ficava imaginando Jean-Paul Sartre chegando com Simone de Beauvoir. O que eu teria para dizer a eles com o meu francês ruim?
Foi em Paris que aprendi a cozinhar, a descascar batatas, fatiar cebolas, temperar pepinos, amassar alho, selar berinjelas. Foi em Paris que aprendi a comer pamplemouse com colherzinha, a gostar de carne de carneiro temperada com harrissa, a molhar as tiras de pepino no molho de iogurte grego.
Paris para mim é e não é um passeio à beira do Sena nessa época de outono, uma lambida no sorvete de manga do Bertillon a caminho da Notre Dame, hoje apenas cinzas. Paris para mim é escrever poemas ao lado de um copo de Perrier com uma rodela de limão siciliano num bar qualquer do Marais.
Mas é também o boeuf bourguignon mal feito do restaurante Mabillon, onde nós universitários comíamos de segunda a sexta. É também a recordação de uma gelatina endurecendo no peitoril da janela por falta de uma geladeira, um tatame no chão por falta de uma cama da Habitat e de roupas comuns dependuradas no vão da janela por falta de um armário.
Se um dia essa pandemia se for, vou ouvir uma voz dizendo que dentro de poucos minutos pousaremos no Aeroporto Internacional Charles De Gaulle. Vou apertar os cintos, calçar o tênis, colocar a cadeira na posição vertical e ficar olhando na telinha o avião sobrevoando e circulando a cidade amada.
O avião vai pousar, vou descer, percorrer correndo enormes corredores até chegar na porta principal e pegar o ônibus 131 até Denfert Rocherreau.
Quero parar numa banca pra ver a capa do último número do Charlie Hebdo, sacudir e tomar uma Orangina, comer um pain au chocolate, passar a tarde observando os livros dos buquinistas expostos na murada do Sena. Descer as escadas rolantes dos Halles, entrar na Fnac para observar mil e um livros novos e, ao lado, comprar um incenso une après-midi sous um figuier, porque Paris me viciou em figos, em livros, em Orangina, em pamplemouse, em poesia e em incenso, desde aqueles anos hippies.
NUNCA TE VI MAIS GORDO
Onde eles estão que não os vejo? Dizem que dentro do ônibus, do elevador, supermercado, no hospital, no ar, no avião. Ando na rua paranóico olhando para um e para outro. Quem está com ele? Moças bonitas cheirando a botão de laranjeira, trabalhadores da prefeitura mexendo cimento para fazer calçadas, diaristas apressadas digitando a senha para abrir o portão do prédio, o rapazinho levantando a porta de ferro da ótica, o motorista do carro que freia para eu passar, todos com máscaras. Não sei se estão felizes, rindo ou chorando. Com máscara somos todos iguais. Não os vejo indo embora no ralo da pia quando esfrego as mãos com sabão de coco líquido, não os vejo na sola do meu Nike, não os vejo na minha camisa florida, não os vejo na mesa de um bar onde as pessoas tomam Itaipava. Onde eles estão que não os vejo? Na casca da laranja, escondido nas folhas do repolho, grudado no vidro da janela da sala, no celular acendendo anunciando mensagens, no telefone fixo frio e abandonado no canto do escritório, no envelope convocando para uma reunião virtual do condomínio. Ele aparece redondo cheio de antenas de todas cores no Google. Já trabalhei em laboratório e sei como é o prazer de ver ali quem a gente não vê no dia-a-dia. Prazer macabro porque ele é bonito como uma obra de Beatriz Milhazes, apenas um pouco mais colorido. Que medo.
O BARULHO, O CHEIRO E AS LUZES DA CERIMÔNIA DO ADEUS
Eu tinha muito medo da morte. Perder meu pai, minha mãe, ficar sozinho no mundo. A primeira pessoa que vi morta foi o meu avô, em 1968, na sala da casa dele. O cheiro de flor e vela nunca saíram de dentro do meu nariz. Acho que eram crisântemos que cobriam o corpo dele. Não gosto de crisântemos até hoje.
O meu pai também tinha medo da morte, mas brincava com ela. Trinta anos antes de nos deixar, comprou um túmulo no Parque da Colina. Escolheu bem o lote, debaixo de uma frondosa árvore, creio que uma mangueira, bem perto da cantina.
– Se não for perto do bar, meus amigos nunca irão me visitar, dizia ele.
Sabia de cor o dia da morte de todos os amigos, amigas, parentes de perto e de longe, vizinhos, de todos os funcionários do Serviço de Meteorologia.
Não gosto de ver pessoas mortas, no caixão. Vi meu pai, minha mãe, o meu sobrinho Marcelo, o Geneton Moraes Neto e a última foi Dona Georgia, uma grega, amiga do coração. Ela parecia viva e para mim continua assim.
Não quero mais ver mortos.
Muitos amigos já se foram e o que guardo deles é a lembrança da vida, das piadas que contavam, dos títulos geniais que faziam, das edições primorosas, das conversas de copo e de cruz.
Eu tinha muito medo também de ambulância, da sirene vermelha rodando, da velocidade com que ela passava desviando dos automóveis, quase capotando. Aquela camionete branca me dava pavor, me lembrava sofrimento e morte. Ficava imaginando o que se passava ali dentro daquelas quatro paredes de lata ou ferro, sei lá.
Nunca entrei numa, nem por curiosidade. Mas sei lá dentro tem uma maca, balão de oxigênio, todos os apetrechos de primeiros socorros. Imagino que cheira a álcool, acetona talvez. Eu sempre achei que quando uma ambulância passa piscando, fazendo barulho, tem alguém à morte lá dentro.
Só me vem à cabeça um ataque cardíaco, enfermeiros fazendo massagem no coração, respiração boca a boca e a aflição do trânsito de São Paulo que não anda.
Ambulância faz sempre o caminho entre a vida e a morte. Pode até não chegar ao seu destino final, como pode.
Hoje, moro em frente ao Hospital Sorocabana, na Lapa. Improvisaram trinta e seis leitos de UTI exclusivos para enfrentar o coronavírus. Daqui de cima, fico observando o movimento delas lá embaixo, que vão chegando, uma atrás da outra. Hoje não é mais ataque cardíaco, agora é um vírus.
Ontem tinham quatro estacionadas na porta, com os motores ligados. Fiquei imaginando que esperavam leito para seus pacientes.
Vejo daqui de cima pessoas que passam na calçada em frente ao hospital com a máscara no queixo ou no bolso, indiferentes ao vermelho refletindo nas folhas das árvores. De noite, no Jornal Nacional, fico sabendo das 876 mortes do dia.
É quando o medo da infância volta.
A SIRENE
Eu tinha muito medo de ambulância, da sirena, da velocidade com que ela passava se desviando dos carros, quase capotando. Aquela camionete me dava pavor porque eu ficava imaginando o que se passava ali dentro daquelas quatro paredes de lata ou ferro, sei lá. Nunca entrei numa, nem pra visitar, conhecer. Mas sei que tem uma maca, balão de oxigênio, todos os apetrechos de primeiros socorros. Sei que cheira a álcool. Eu sempre achei que quando uma ambulância passa piscando vermelho, fazendo barulho, tem alguém à morte lá dentro. Só me vem à cabeça um ataque cardíaco, enfermeiros fazendo massagem no coração, respiração boca a boca e a aflição do trânsito que não anda. A ambulância faz sempre o caminho entre a vida e a morte. Pode não chegar ao seu destino final, como pode. Hoje, moro em frente ao Hospital Sorocabana, na Lapa, em São Paulo. Improvisaram trinta e seis leitos de UTI exclusivos para enfrentar o coronavírus. Daqui de cima, fico observando o movimento das ambulâncias que vão chegando, uma atrás da outra. Não é mais ataque cardíaco, agora é um vírus. Ontem tinham quatro estacionadas na porta, com a luz vermelha piscando. Fiquei imaginando se esperavam leito. Talvez. Algumas pessoas passam na calçada com a máscara no queixo ou no bolso, indiferentes com o vermelho refletindo nas folhas das árvores. De noite, no Jornal Nacional, fico sabendo das 806 mortes do dias. Algumas, talvez aqui, pertinho de mim.
QUANDO UM CACHORRO VEM TRAZER UM RESPIRO NA PANDEMIA
Venho dessas famílias que a gente diz: na minha casa sempre teve cachorro. Sim, sempre teve cachorro. Foram quatro: Jolie, Tupi, Pink e Fly. Cachorros soltos dentro de casa e no terreiro, daqueles que se engasgavam comendo osso de frango no domingo depois do almoço.
Gostamos de cachorro desde o Rin-Tin-Tin, a Lassie e o Lobo.
Ainda não havia petshop, ração, brinquedinho, caminha, xampu, nada disso. Bebiam água numa lata de goiabada da Cica e iam uma vez por ano ao posto da Prefeitura pra vacinar contra a raiva. E só.
Depois de muito lutar para não ter um cachorro, na quarentena adotamos o Canela. Vira-lata, foi abandonado num Posto Ipiranga no meio da estrada. Tive logo a ideia de dar o nome a ele de Guedes. Ouvi um sonoro não de todos aqui. Seria muita humilhação para ele.
Chegou Bob e ganhou um novo nome, Millôr, que durou umas duas horas. Ficamos lembrando de nomes de cachorros e quando ele ouviu Canela, abanou o rabo e veio todo serelepe. Virou Canela imediatamente e sempre atendeu por esse nome. Acreditamos que ele era Canela desde pequenininho.
O Canela é o vira-lata mais nobre do pedaço. Senta esguio esperando eu colocar o tênis, pegar o saquinho plástico, a máscara, a coleira pra passear.
Chegou aqui sem saber o que é elevador. A porta abria e ele ficava olhando, não entrava. Agora só falta apertar o botão S1 quando saímos pra descer.
Aprendeu a não fazer xixi na garagem, sabe esperar a hora do passeio e – acredite – pede colo depois de nos acompanhar no café da manhã. Fica observando a mesa, sem sequer enfiar o focinho onde não foi chamado. A gente aqui em casa vive dizendo que se fosse fêmea chamaria Gilda, porque não existe cachorro como Canela.
Metódico, dá nove horas vai para o cômodo onde funciona o home office da Paulinha e fica esperando a hora do trabalho dela. Divide as atenções durante o dia. No final da tarde vem pro meu escritório e deita na caminha esperando a hora do petisco.
Paramos de dar ração e agora fizemos a comida dele. Descobrimos que o açougue do supermercado tem uma carne que leva o nome de retalho. É um mix de carne, pedacinhos que sobram daqui e dali na hora do corte. Do acém ao filé mignon, do patinho ao colchão duro. A comida é simples e fácil de fazer. Sem gordura, sem sal e ele ama. Abandonou a ração de vez, não suporta o cheiro. Será que criamos um monstro?
O Canela alegrou nossa vida nessa pandemia. Tem horas que ele parece o Brian da Family Guy. Dá impressão de que vai sentar na mesa conosco e discutir filosofia. Canela não morde, late só na rua e adora brincar com os outros cachorros. Se deu bem com a Shakira e a Cher, das nossas filhas. Acho que ele percebeu que estava escrevendo sobre ele nessa manhã de quinta-feira. Só acordou agora e veio abanando o rabo, feliz da vida.
MINHA VIDA DE CACHORRO
Venho dessas famílias que a gente diz: na minha casa sempre teve cachorro. Sim, sempre teve cachorro. Foram quatro: Jolie, Tupi, Pink e Fly. Cachorros soltos dentro de casa e no terreiro, daqueles que se engasgavam comendo osso de frango no domingo depois do almoço. Ainda não havia petshop, ração, brinquedinho, caminha, xampu, nada disso. Bebiam água numa lata de goiabada da Cica. Iam uma vez aos posto da Prefeitura pra vacinar contra a raiva. E só. Depois de muito lutar para não ter um cachorro, na quarentena adotamos o Canela. Vira-lata, foi abandonado num Posto Ipiranga no meio da estrada. Tive logo a ideia de dar o nome a ele de Guedes. Ouvi um sonoro não de todos aqui. Seria muita humilhação para ele. Chegou Bob e ganhou um novo nome, Millôr, que durou umas duas horas. Ficamos lembrando de nomes de cachorros e quando ele ouviu Canela, abanou o rabo e veio todo serelepe. Virou Canela imediatamente e sempre atendeu por esse nome. Acreditamos que ele era Canela desde pequenininho. O Canela é o vira-lata mais nobre do pedaço. Senta esquio esperando eu colocar o tênis, pegar o saquinho plástico, a máscara, a coleira. Chegou aqui sem saber o que é elevador. A porta abria e ele ficava olhando, não entrava. Agora só falta apertar o botão S1 quando saímos pra passear. Aprendeu a não fazer xixi na garagem, sabe esperar a hora do passeio e – acredite – pede colo depois de nos acompanhar no café da manhã. Fica observando a mesa, sem sequer enfiar o focinho onde não foi chamado. A gente aqui em casa vive dizendo que se fosse fêmea chamaria Gilda, porque não existe cachorro como Canela. Metódico, dá nove horas vai para o cômodo onde funciona o home office da Paulinha e fica esperando a hora do tabalho dela. Divide as atenções durante o dia. No final da tarde vem pro meu escritório e deita na caminha esperando a hora do passeio. Paramos de dar ração e fizemos a comida dele. Descobrimos que o açougue do supermercado tem uma carne que chama retalho. É um mix de carne, pedacinhos que sobram daqui e dali na hora do corte. Do acém ao filé mignon, do patinho ao colchão duro. A comida é simples e fácil de fazer. Sem gordura, sem sal e ele ama. Abandonou a ração de vez, não suporta o cheiro. Será que criamos um monstro? O Canela alegrou nossa vida nessa pandemia. Tem horas que ele parece o Brian da Family Guy. Dá impressão de que vai sentar na mesa conosco e discutir filosofia. Canela não morde, late só na rua e adora brincar com os outros cachorros. Se deu bem com a Shakira e a Cher, das nossas filhas. Acho que ele percebeu que estava escrevendo sobre ele. Só acordou agora e veio abanando o rabo, feliz da vida.
[ilustração Rebeca Campbell]
TRÊS COISAS ANTES QUE EU ME ESQUEÇA
As paredes são frias, pintadas à óleo, uma combinação de creme com cinza. O barulho é baixo, mas intenso e o pisca-pisca de números e curvas, mais ainda. O cheiro é uma mistura de éter, álcool, clorofórmio, um odor que lembra o cómodo das farmácias de antigamente, onde tomávamos injeção de Benzetacil. Não tem graça nenhuma e o andar apressado do pessoal da linha de frente deixa sempre a impressão de que alguém está indo embora para nunca mais. Às vezes não, apenas é hora de um pequeno procedimento. Os olhos nos aparelhos são atentos, no relógio, no pulso. A vontade de respirar fundo é grande, fazer contraste com aquela dificuldade de aspirar e expirar das pessoas ali. Os pulmões fragilizados viram pra lá e pra cá e vão, aos poucos, transformando-se em farelo nas radiografias que só trazem tristeza. Ultrapassamos os cento e trinta e quatro mil mortos. Do lado de fora faz sol e a vida é mais colorida que aqueles cobertores verdes. Aqui fora, discutem a volta às aulas, a abertura das casas de espetáculo, o shopping a todo vapor, a galera na arquibancada, essas coisas.
Sinceramente, vontade de sair andando a esmo, sem destino, tipo Paris-Texas, tipo Werner Herzog quando escreveu Sur le Chemin des Glaces, sem lenço e sem documento. Sair reto, subir a Catão, ganhar uma estrada, atravessar sete mares, subir montanhas, chegar a Zona da Mata, comer algumas mangas Ubá até enfarar. Reencontrar paisagens, velhos amores e seguir adiante. Subir a América do Sul tipo Diários de Motocicleta, fazer uma pequena revolução. Derrubar o governo da Bolívia e, na Colômbia, soltar um rojão. Revisitar o museu Botero, comer frutas exóticas e seguir caminhando pela estrada de ferro que não vai dar em nada. Ali é o fim do mundo. Vontade de abrir a porta, descer as escadas, deixar as janelas abertas sem se importar se vai chover no sofá, se vai molhar os livros, se vai estufar o chão. Esquecer todos os compromissos, nem que seja por vinte e quatro horas. Não, vinte e quatro horas é pouco. Trinta e seis. Construir um barco, tipo Fitzcarraldo.
Eu tinha uma verdadeira paixão por mapas. Ficava imaginando tempos de outrora, quando navegantes aventureiros saiam singrando pelos mares à procura de novas terras. Gostava de mapas simples e de mapas antigos, aqueles rebuscados, em cor sépia, imitando pergaminho. O meu caderno de Geografia era um capricho só. Tinha um unicamente de mapas. Sou do tempo em que não havia Tocantins, nem Mato-Grosso do Sul. O Acre, Rondônia, Roraima e Amapá eram territórios e tudo isso estava nos meus mapas, cada estado, cada território de uma cor. Goiás era roxo, Minas Gerais era verde e eu já ia me esquecendo do estado da Guanabara, que existia também. Só depois, eu menino ainda, acrescentei dentro de Goiás aquele retângulo, o Distrito Federal. Gostava de imaginar lugares novos, países das maravilhas, terras do nunca. Fazia mapas de cidades, de estradas, copiando aqueles da Quatro Rodas. Até hoje gosto de mapas, espetar alfinetes com a cabeça colorida nos lugares por onde já andei. Me impressionava o Chile tão comprido, a Itália uma bota, o nariz de Minas Gerais, a Bélgica tão pequena. Me perdia naquela União Soviética imensa e despovoada, como a Amazônia. Ver um mapa mundi estendido no chão do meu quarto era a glória. Ainda é, porque meu sonho é conhecer o Zaire, a Zâmbia, o Butão, países que acabei de localizar e que muitos acham que são países que não estão no mapa.
O LABIRINTO
Sonho com labirintos que não existem. Acordo pensando naqueles dos palácios de Viena e vejo-me aqui neste que existe na Lapa. Quartos, sala, cozinha, banheiro, revistarias, escritório, varanda. Poucas plantas, nada a ver com aqueles labirintos transbordando de glicínias que avançam e fecham qualquer saída. Não quero me perder por ai, sentir os pés no chão, andar ligado, mas ao mesmo tempo ser um mutante esperando a vacina no braço, na língua, onde for. Russa ou chinesa, não importa. Quero sair daqui, dar passos largos, sentir o cheiro de gasolina saindo do motor. Se não fosse a música permanentemente no ar, os livros em cima da mesa, as revistas, os jornais, se não fosse minha família, se não fosse o bife à milanesa que espalha seu cheirinho bom pela casa, já teria avançado sobre as glicínias, não tenho dúvidas.
MAPAS
Eu tinha uma verdadeira paixão por mapas. Ficava imaginando tempos de outrora, quando navegantes aventureiros saiam singrando pelos mares à procura de novas terras. Gostava de mapas simples e de mapas antigos, aqueles rebuscados, em cor sépia, imitando pergaminho. O meu caderno de Geografia era um capricho só. Tinha um só de mapas. Sou do tempo em que não havia Tocantins, nem Mato-Grosso do Sul. O Acre, Rondônia Roraima e Amapá eram territórios e tudo isso estava nos meus mapas, cada estado, cada território de uma cor. Goiás era roxo, Minas Gerais era verde e eu já ia me esquecendo do estado da Guanabara, que existia também. Só depois, eu menino ainda, acrescentei dentro de Goiás aquele retângulo, o Distrito Federal. Gostava de imaginar lugares novos, países da maravilhas, terras do nunca. Fazia mapas de cidades, de estradas, copiando aqueles da Quatro Rodas. Até hoje gosto de mapas, espetar alfinetes com a cabeça colorida nos lugares por onde já andei. Me impressionava o Chile tão cumprido, a Itália uma bota, o nariz de Minas Gerais, a Bélgica tão pequena. Me perdia naquela União Soviética imensa e despovoada, como a Amazônia. Ver um mapa mundi estendido no chão do meu quarto era a glória. Ainda, porque meu sonho é conhecer o Gabão, a Zâmbia, o Zaire, o Butão, países que acabei de localizar e que muitos acham que são países que não estão no mapa.
SEM DESTINO
Sinceramente, vontade de sair andando a esmo, sem destino, tipo Paris-Texas, tipo Werner Herzog quando escreveu Sur le Chemin des Glaces, sem lenço e sem documento. Sair reto, subir a Catão, ganhar uma estrada, atravessar sete mares, subir montanhas, chegar a Zona da Mata, comer algumas mangas Ubá até enfarar. Reencontrar paisagens, velhos amores e seguir adiante. Subir a América do Sul tipo Diários de Motocicleta, fazer uma pequena revolução. Derrubar o governo da Bolívia e, na Colômbia, soltar um rojão. Revisitar o museu Botero, comer frutas exóticas e seguir caminhando pela estrada de ferro que não vai me levar a nada. Vontade de abrir a porta, descer as escadas, deixar as janelas abertas sem se importar se vai chover no sofá, se vai molhar os livros, se vai estufar o chão. Esquecer todos os compromissos, nem que seja por vinte e quatro horas. Não, vinte e quatro horas é pouco. Trinta e seis. Construir um barco, ser Fitzcarraldo.
[ilustração Katharina Bitzl]
UTI
As paredes são frias, pintadas à óleo, uma combinação de creme com cinza. O barulho é intenso e o pisca-pisca de números e curvas, mais ainda. O cheiro é uma mistura de éter, álcool, clorofórmio, um odor que lembra o cómodo das farmácias de antigamente, onde tomávamos injeção de Benzetacil. Não tem graça nenhuma e o andar apressado do pessoal da linha de frente deixa sempre a impressão que alguém está indo embora para nunca mais. Às vezes não, apenas é hora de um pequeno procedimento. Os olhos nos aparelhos são constantes, no relógio, no pulso. A vontade de respirar fundo é grande, fazer constraste com aquela dificuldade de aspirar e expirar. Os pulmões fragilizados viram pra lá e pra cá e vão, aos poucos, transformando em farelo nas radiografias que só trazem tristeza. Ultrapassamos os cento e trinta mil mortos. Do lado de fora faz sol e a vida é mais colorida que aqueles cobertores verdes. Discutem a volta às aulas, a abertura das casas de espetáculo, o shopping a todo vapor, a galera na arquibancada, essas coisas.
MULHER LENDO
Eu era menino ainda quando vi uma propaganda nas páginas da revista Realidade anunciando o lançamento da coleção Gênios da Pintura. Eu não tinha NCr$2.50 por semana para comprar aquele Van Gogh, o número 1, sequer para comprar os outros noventa e seis. Picasso, Kandinsky, Goya, Rembrandt, Monet… Namorava cada um nas bancas e quando Seu Benito estava lá, ele me deixava folhear, sem amassar, por favor! Foi assim que me apaixonei por esses pintores geniais. A cada museu que entrava e via uma obra ao vivo eu me lembrava dos Gênios da Pintura da Abril Cultural. Agradecia aos céus o privilégio de poder parar diante de uma obra o tempo que quisesse e ficar admirando. Nesse domingo de manhã me emocionei ao ver a postagem do meu amigo Apolo Heringer Lisboa, aquele com quem tenho uma grande história. A obra estava lá e apenas o nome: Mulher Lendo, Henri Matisse, 1908. Quando vejo uma obra pela primeira vez, a emoção não me segura.
AS SEIS CANÇÕES DO CÁRCERE DE UM NARCISO EM FÉRIAS
Caetano Veloso cita seis músicas no seu depoimento a Renato Terra e Ricardo Calil, sobre sua prisão em 1969, duas semanas depois do Ato Institucional número 5. No documentário Narciso em Férias, que foi aplaudido em Veneza no dia 7 de setembro, ele canta três canções e, com dor no coração e uma certa angústia, silencia sobre as outras três.
Canta Irene, a única que fez atrás das grades, quando apertou a saudade da irmã, com então 14 anos de idade. Na gravação original, que abre o disco de capa branca e que leva apenas sua assinatura, Caetano erra no início e deixa o erro no vinil: esqueci. Eu vi que você não estava com cara de quem ia cantar. Eu estava esquecido, quando me lembrei já foi em cima da hora. Ah, meu Deus… ah! Na letra, uma única vontade, a de ir embora daquele lugar: eu quero ir minha gente, eu não sou daqui, eu não tenho nada, quero ver Irene rir, quero ver Irene dar sua risada.
Canta Terra, a canção que fez, alguns anos depois, e que sua memória o remeteu ao quartel do Exército. Compôs a lembrança de Dedé que levou para ele ver a revista Manchete com as fotos da Terra vista do espaço. Na verdade, um hino ao Planeta Terra: quando eu estava preso na cela de uma cadeia, foi que vi pela primeira vez as tais fotografias, em que apareceres inteira, porém não estava nua e sim coberta de nuvens. É em Terra que ele reconstrói os versos de Paraíba, de Luiz Gonzaga, aquela Paraíba masculino mulher macho sim senhor! Mando um abraço pra ti pequenina como se eu fosse o saudoso poeta e fosses a Paraíba.
Canta Hey Jude, a canção que ouvia na prisão e que lhe dava a sensação de que dias melhores viriam: Ei, Jude, não fique mal, pegue uma canção triste e torne-a melhor. Lembre-se de deixá-la entrar em seu coração, então você pode começar a melhorar as coisas e sempre que você sentir dor. Ei, Jude, vá com calma, não carregue o mundo nos seus ombros
Caetano não tocou Súplica, sucesso no vozeirão de Orlando Silva, a canção que um velho comunista, companheiro de prisão pedia que ele cantasse: Aço frio de um punhal/Foi o seu adeus para mim/Não crendo na verdade, implorei, pedi/As súplicas morreram num eco em vão/Sofrendo nas paredes frias de um apartamento.
Não cantou também Onde o céu azul é mais azul, uma aquarela brasileira na voz de Francisco Alves, a canção que Caetano tem medo, medo de chorar ao ouvi-la: Eu já encontrei um dia alguém/Que me perguntou assim, iá, iá/O seu Brasil o que é que tem/O seu Brasil onde é que está?/Onde o céu azul é mais azul/E uma cruz de estrelas mostra o sul/Aí, se encontra o meu país/O meu Brasil grande, e tão feliz.
E Caetano não cantou Assum Preto, de Luiz Gonzaga, recuperada pela fatal Gal Costa, outra música que lhe causava uma tristeza profunda;
Tudo em vorta é só beleza/Sol de abril e a mata em frô/Mas Assum Preto, cego dos óio/Num vendo a luz, aí, canta de dor/Mas Assum Preto, cego dos óio/Num vendo a luz, aí, canta de dor/Tarvez por ignorança/Ou mardade das pió/Furaro os óio do Assum Preto/Pra ele assim, aí, cantá mió.
Sim, as histórias voltam junto com as canções.
CÉREBRO ELETRÔNICO
É bobagem ficar imaginando o mundo hoje sem as modernidades que vieram com os anos. Computador, por exemplo. A não ser que eu me refugiasse na Fazenda do Sertão, que nem eletricidade tinha, para criar porcos, patos, marrecos, galinhas, cavalos. Plantar taioba, couve, escarola. Me desligar do mundo eu tenho me desligado por uns dez minutos por dia, ou mais. Às vezes, quando passo meia hora sem ter notícias das terra civilizada, quando volto tenho um milhão de mensagens, de novidades, de pedidos, de comentários, de piadas, de dicas, de boletos, de fatos, de fotos, de sustos. Aos 70 anos, não esperava ver o mundo assim, eu aqui dentro de casa de pijama até por volta das dez da manhã. Sou salvo pela música diariamente: eu vou-me embora, meu bem, vou-me embora. Eu aqui não me dou bem, ô viola! violá…
PROFISSÃO ESCRITOR
O melhor horário para escrever um livro é quando o céu ainda está escuro e o único barulho único é de um pássaro ávido por encasalar, que canta agoniado na árvore em frente a janela do meu escritório. Nessa hora da manhã, vivo entre e pássaros e páginas que ainda estão no computador, iluminando esse meu canto e o canto do pássaro. É quando a televisão ainda está desligada, o portão da garagem ainda não começou a fazer nhec, os ônibus não começaram a circular. É nessa hora que a pesquisa avança e os textos vão saindo. A pesquisa ainda é longa e esse metro e meio de livros empilhados na minha frente me assusta um pouco. Quero entrega a editora antes do final ano, parece que está longe, mas não. Daqui a pouco outubro, novembro e acabou. Por isso economizo palavras aqui para ganhar lá. Precisava dizer isso.
ASAS DO DESEJO
Tenho uma verdadeira paixão por aves, de grande e pequeno porte. Menino, já fui criador de passarinhos e, com o passar dos anos, perdi a coragem de tê-los enjaulados. Fotografo aves desde pequenininho. Por onde eu vou tem sempre uma, parece que à minha espera. Tenho uma coleção de melros que circulam pelos parques de Londres, cada um mais bonito que o outro. Eclético, sou capaz de cantar Blackbird dos Beatles, misturando com Menino Passarinho do Luiz Vieira e Assum Preto, de Luiz Gonzaga. Sei de cor Coleção de Passarinhos na voz de Clementina de Jesus e Gaivota, de Gil, na voz de New Matogrosso. Esse casal de gaivotas foi fotografado em Barcelona e me encheu de curiosidade. O ninho deles fica no alto da torre, sem proteção contra a chuva. As gaivotas deviam ter certeza da temporada de seca. Os pássaros são muito inteligentes, eu sei. Os pombos possuem um sensor capaz de levá-lo de volta pra casa depois de uma simples revoada. Nós, foi preciso inventar o Waze que é um nome feio, mas é o melhor meio de se chegar.
[foto Alberto Villas]
OS DIÁRIOS ACUMULADOS NOS TEMPOS DE PANDEMIA
Eu sempre escrevi, desde aquele primeiro de janeiro de 1975, quando estava longe do meu país e achei que seria bom registrar o exílio. Escrevia à mão, depois passei pra máquina de escrever e agora escrevo aqui nesse computador. Hoje, por exemplo, quando saí cedo pra passear com o nosso cachorro, uma mulher caminhando ao meu lado disse que o Canela é uma graça. O nosso Canela é um vira-lata, mas é realmente uma graça. Ela contou que só passeia com o dela à noite, quando chega em casa depois do trabalho. Ele passa o dia no quintal que dá também pra varanda. Contou que ele adora enfiar o focinho na grade e ficar observando o movimento da rua. Mas agora mudou uma mulher para a casa do lado que está implicando com ele, ela não gosta de cachorro. Disse que ele devia ficar preso. “Ora, a casa é minha, moro lá há dez anos e não vou deixar ele preso. Se ela está incomodada, que se mude”. Antes de nos despedirmos, na esquina de Roma com Catão, ela concluiu: “mas eu não sou boba nem nada. Instalei uma câmera porque vai que ela resolve envenenar o Suck, não é mesmo?” Pronto, escrevi.
O que eu sentia pela Matemática era pavor, desde muito pequeno. Nascido para as Humanas, vivia noites sem dormir às vésperas de provas, vinham furúnculos e tinha febre. Era um rebelde que não se conformava em resolver equações que jurava serem inúteis para minha vida. Nunca aprendi a fazer uma raiz quadrada! Quando o boletim vinha nota vermelha em Matemática, o meu pai engenheiro não engolia. Eu argumentava: que dia na minha vida alguém vai me perguntar quanto é a raiz quadrada de 49? Não entendia também porque precisava saber quais eram os afluentes do Amazonas, a capital da Dinamarca e o que foram as Capitanias Hereditárias. Lembrei disso quando fiz um percurso de barco de Manaus até Parintins, passando pelos afluentes. Lembrei disso no dia em que pus os pés em Copenhagen, mas as Capitanias Hereditárias e a raiz quadrada de 49 estou tentando entender até hoje.
Todos em casa temos coração mole, a família inteira. Pai, mãe, filhos, netos, bisnetos. Não existe a palavra insensível por aqui. Não tem como ver alguém mexendo nos sacos pretos de lixo tarde da noite e ficar impassível, cara de paisagem. O coração mole parte em dois. Nas manchetes dos jornais, vejo a euforia com o crescimento do mercado imobiliário. Somos esquerdas demais pra não pensar nas vinte e cinco mil pessoas que moram nas ruas da maior e mais rica cidade da América do Sul. Não tem como ver famílias cujo teto é o viaduto Presidente João Goulart, a marquise da Marabá, o plástico tosco e rasgado daquela que um dia foi uma barraca de camping. O fogareiro na calçada esquentando água para um macarrão, uma flor de plástico em cima de um caixote de frutas selectas, um cão dormindo. Como um argonauta, meu coração não aguenta tanta tormenta. O Doutor Christian Barnard, um dia, trocou um pelo outro, mas era coração com aorta direita e aorta esquerda, aprendi no Marista. Outro dia, o meu irmão mais velho me chamou a atenção: já pensou que o coração da gente é uma máquina que está funcionando vinte e quatro horas por dia, há mais de setenta anos? Uma hora para, não tem jeito. Já cantaram o coração bobo, o coração vagabundo, o coração balão, o coração São João. E também o coração que, não sei porque, bate feliz quando te vê.
INFÂNCIA
Não tinha jeito, aquela maldita vareta preta sempre caia por baixo de todas as outras, verdes, amarelas, azuis e vermelhas. Eu tinha as mãos muito firmes, mas não era fácil chegar até a vareta preta, a mais valiosa. Eu tirava uma amarela com a delicadeza de um monte, uma vermelha com a perspicácia de tirar antes a verde, colada junto a ela. Todo Natal ganhávamos um jogo de Pega-Varetas novo que substituia aquele que passou o ano sendo jogado no chão da sala, já meio estropiado. A vida não era nada fácil: decorar Latim, estudar o significado em português da palavra francesa partout, saber a tabuada de cor, as capitais da Finlândia, da Suécia e da Islândia, entender o que eram as mitocôndrias, essas coisas todas. Desconfiávamos que não era a cegonha que trazia o bebê, mas não podíamos contestar. A gente fingia que Papai Noel existia, que o coelho da Páscoa botava ovo de chocolate, que Eva ofereceu uma maçã a Adão e que Noé colocou um casal de cada bicho na sua arca. Não condenávamos a Dona Chica que atirou o pau no gato e morríamos de medo do boi da cara preta que pegava menino que tinha medo de careta.
OS COMPRIMIDOS
Menino ainda, fica impressionado com a quantidade de comprimidos que os meus pais engoliam todos os dias. Era na hora do jantar que eles vinham, cada um com a sua caixinha de remédios. O do meu pai era um tubo plástico com as indicações dos dias da semana, pra ele não se perder. A da minha mãe era uma potinho de prata com tampa de madrepérola. Eles abriam suas caixinhas e iam colocando os comprimidos em cima da mesa. Não eram muito velhos ainda, mas eu ficava pensando com os meus botões: porque gente velha toma tanto remédio? Não me lembro que comprimidos engoliam. Um, sei que era para pressão porque o meu pai lembrava minha mãe todos os dias: tomou o seu remédio pra pressão? Ela quase sempre tinha esquecido, mas tomava imediatamente. Hoje eu fico imaginando que deveriam ser remédios pro colesterol, pra ralear o sangue, pra tireóide, pra artrite. Hoje, aqui em casa é na hora do café da manhã que enfileiro meus remédios: Puran 25 mg, Reuquinol 400mg, Plenance 19 mg, Ezetimiba 10mg, Xarelto 20mg e Addera 1000. Pois é, ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais.