De repente, vem na cabeça aquela canção de Geraldinho Azevedo, ainda mais quando vai chegando a hora de voltar pra casa. Já vou embora/Mas sei que vou voltar. Voltar um dia aqui pra comer feijão verde, macaxeira frita, arroz de nata, pirão de queijo, carne seca com pimenta. Voltar pra comer caju, cajá, siriguela, melão, umbu e jamelão, se lambuzar. Tomar sorvete de açaí na Tropical, camarão à milanesa no Camarões, moqueca no Nau, essas coisas todas. Sei que vou voltar aqui um dia pra rever o mar tão lindo, com os seus cinquenta tons de verde e temperatura ambiente. Me divertir vendo os pescadores puxando a rede apinhado de tainhas, voltar pra ver todo mundo dando bom dia, boa tarde e boa noite, mesmo sem nunca ter te visto. Sentir o vento forte soprando o tempo todo, deixando as árvores inclinadas para um lado só, derrubando manequins na areia, corpo para um lado, biquini para o outro. A hora é de voltar, voltar a respirar fumaça, se alimentar de notícias encavaladas, uma atrás da outra, vinte e quatro horas por dia, cair a ficha, cair na real. Sentir saudade, enfrentar a turbulência do fim de mais um ano, notícias de panetone, publicidades piegas de tempo de confraternização, retrospectiva. Por enquanto, enquanto o avião não chega de Fortaleza, ser cafona, cantarolar uma velha canção imitando Wanderley Cardoso: o pic-nic foi bom, mas a volta é que foi tão triste…
texto & foto/Alberto Villas