VI E GOSTEI

A abertura do programa Papo de Segunda, exibido pelo GNT, ao vivo, às dez e meia da noite de 13 de julho, foi pura emoção. Fábio Porchat, Francisco Bosco, Emicida e João Vicente, trouxeram para os telespectadores a presença luxuosa do Padre Julio Lancelotti, que há mais de três décadas luta ao lado dos moradores de rua de São Paulo. Os primeiros vinte minutos do programa foram diferentes, emocionantes, tensos. O padre Julio contou a sua batalha, deixando os quatro participantes do programa engasgados. E milhares de telespectadores também. Francisco Bosco resumiu bem: foi o momento mais importante da história do programa. Quem não viu, vale a pena ver e quem viu, vale a pena ver de novo. 

[foto Reprodução/GNT]

PERSONA NON GRATA

Em pouco mais de cem dias no ar na CNN Brasil, dois participantes fixos do programa #GrandeDebate já pegaram sua viola e foram tocar em outro lugar. Primeiro foi Gabriela Priolli e agora Augusto Botelho. Os dois não tiveram estômago para ouvir as posições de extrema-direita de Caio Coppolla, o outro participante do grande debate, que parece estar ali só para criar polêmica, já que seus argumentos são sempre muito rasos. Ele é capaz de defender o presidente Bolsonaro até nas atitudes mais errôneas, bizarras e facistas. Vem aí uma terceira figura para debater com Coppolla. Quem será? Será que tem estômago?

[foto Reprodução CNN Brasil]

POSITIVO

Meio-dia e vinte e um surgiu a notícia: o teste de coronavírus do presidente Jair Bolsonaro deu positivo. A GloboNews interrompeu sua programação para informar com urgência a novidade. A partir deste momento, foi praticamente assunto durante mais de doze horas. Passaram por ali todos os comentaristas, todos os apresentadores, todos os telejornais e programas e só se falava nisso. Durante mais de doze horas (que eu computei) a tarja variava pouco, mas o assunto era o de uma única frase: Jair Bolsonaro testou positivo. Em cima desta notícia de uma linha, a GloboNews conseguiu preencher toda a sua programação elucubrando em cima desta única notícia, sem grandes desdobramentos. Era isso e pronto. Quando liguei a televisão no dia seguinte, na quarta-feira (8), acredite! A frase ainda estava lá. Jair Bolsonaro testou positivo.

HADDAD TRANQUILÃO

A sensação de muitas pessoas que assistiram ao programa Roda Vida na TV Cultura nesta segunda-feira (6) foi a mesma. De que o ex-ministro da Educação, ex-prefeito de São Paulo e ex-candidato nas últimas eleições, Fernando Haddad, poderia estar sentado na cadeira da Presidência da República no lugar de quem está lá, completamente perdido, despreparado, tosco. Sem contar que é genocida, homofóbico, racista, ultra-direitista. Vamos parar por aqui. Aos poucos, os telespectadores foram percebendo que Haddad tem conhecimento de causa, que sabe construir frases conexas e bem feitas. Tem informações precisas, um pensamento reto, que é uma pessoa normal, ao contrário do vencedor. Os entrevistadores, todos representando a imprensa tradicional, ainda com aquele rancor venenoso contra o Partido dos Trabalhadores que não desapareceu do canto da boca, bem que tentaram colocar o ex-prefeito na parede. Mas não conseguiram. A âncora, como não poderia deixar de ser, citou a Venezuela e falou com brilho nos olhos e veneno no canto da boca que Lula foi julgado e condenado. Haddad soube desconstruir cada pergunta maldosa. E deixou todos em silêncio quando falou que o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff começou no dia em que ela foi reeleita. Todos engoliram em seco. Nenhum dos entrevistadores teve coragem de dizer que não foi golpe. Resultado: 7 a 1. 

[foto/Reprodução TV Cultura]

TV EM QUADRINHOS

De repente veio a pandemia e a televisão perdeu completamente o seu padrão de qualidade. Chutou o pau da barraca com todas aquelas normas que podiam, que não podiam. Foco, cenário, insert, posição correta, luz, câmera, ação! Hoje vimos de tudo na TV: depoimentos fora de foco, entrevistado olhando pro teto, pro além, gente vestindo roupa listrada, xadrez, cor de abóbora ou azul anil. O pequeno dicionário Alice Maria de comportamento diante da câmera foi pra cucuia. O importante é a mensagem. Centenas de estantes de livros ao fundo, orquídeas floridas e obras de arte são os cenários preferidos dos entrevistados e comentaristas em home office. Mas o que mais chama a atenção nesses tempos de coronavírus são os quadrinhos, que viraram moda nas entrevistas, nos bate-papos, nas apresentações musicais, nas lives. De repente, a televisão encheu-se de quadrinhos e dentro deles, pessoas mexendo, falando com as mãos, rindo, tocando sax, violino, oboé, celo, piano, um show. O quadrinhos chegaram também à publicidade. Os tempos mudaram e hoje está cada um no seu quadrado, no seu canto e em cada canto uma história pra contar. 

PITACOS

A GloboNews está dividida entre notícias e comentários. Quando temos notícias, ela chega de todos os lados, seja de Brasília ou de Natal, do Rio de Janeiro ou de Manaus. No intervalo entre uma notícia e outra, entram os comentaristas, dezenas. Nos tempos de hoje, entram também os especialistas, principalmente os infectologistas, sempre com informações úteis e precisas. Então, o que incomoda? Os comentaristas em excesso. Basta ser anunciado um novo ministro, que eles chegam com força total, dando todo tipo de pitaco: se é técnico, se vai ter carta branca pra por ordem no galinheiro, de onde vem, como vive, o que come. Entra um, sai outro e eles vão construindo um cenário imaginário dentro de um cenário, na verdade, inimaginável, dentro de um governo inacreditável. Assim que o nome de Carlos Alberto Decotelli surgiu para ser o novo ministro da Educação, em poucos minutos, lá estavam os comentaristas e suas previsões. Quase todos ficaram encantados com o Curriculum Vitae do indicado. “Tem tudo para dar certo”, disseram alguns. “Finalmente alguém notável”, disseram outros. “Uma luz no fim do túnel”, comentaram que que unânimes. Cai o pano! Quando volta o segundo ato, a história é outra, tipo Maysa, meu mundo caiu. E os comentários mudam de tom quando vem à tona o currículo fake. Mas uma voz se destaca no meio de tanto blá blá blá: Otávio Guedes. Preste atenção nele. 

VI E GOSTEI

Muito boa a participação do ex-jogador e comentarista Walter Casagrande no programa Papo de Segunda, exibido segunda-feira (29) no GNT. Contundentes suas declarações sobre drogas, futebol e política. Sem esconder nada. Fabio Porchat, Emicida, João Vicente e Francisco Bosco deixaram Casão falar. Muito, sem cortes. Vale a pena ver de novo!

[foto Reprodução/GNT]

DERRUBANDO VERDADES

Já comentei o assunto aqui, mas volto a ele porque virou pandemia. Reportagens são feitas diariamente mostrando erros, falta de estrutura, falcatruas, todas elas com detalhes, provas e depoimentos contundentes. Falta respirador no hospital Tal. Faltam médicos na cidade Tal. A compra de equipamentos foi ilegal no hospital Tal. O rombo foi de milhões na administração Tal. Mas como é preciso ouvir todos os envolvidos, depois da matéria ir ao ar, vem a famosa nota pé. O hospital Tal informa que o número de respiradores está atendendo cem por cento dos pacientes e que não há falta dele. O hospital Tal informa que tantos médicos foram contratados e que em momento algum paciente deixou de ser tratado por falta de profissionais. O hospital Tal informa que a compra de aparelhos foi feita dentro da lei e todas as contas foram prestadas. A administração do prefeito Tal informa que as contas foram todas prestadas e estão regularizadas. E vamos para a reportagem seguinte. O telespectador fica sem saber. Todas as informações dadas e comprovadas nas reportagens foram, logo em seguida, desconstruídas e desmentidas pelos envolvidos. Alguém está mentindo. 

[foto Reprodução/TV Globo]

NOTÍCIA VELHA

A GloboNews, na manhã desta sexta-feira (26), simplesmente ignorou a capa da revista Veja e reprisou várias vezes matérias do Jornal Nacional da noite de quinta, dizendo que “segundo testemunhas”, o advogado Frederick Wassef conhece Queiroz há pelo menos um ano e meio. E com a tarja “Urgente”. Wassef está na capa da Veja dizendo que acolheu Queiroz. 

[foto Reprodução/GloboNews]

[foto/Reprodução]

VI E GOSTEI

Simplesmente espetacular a série Em Nome de Deus contando a vida e a “obra” de João de Deus, curandeiro, milagreiro, charlatão e estuprador. Uma grande reportagem em forma de cinema, com todos os ingredientes, misturando depoimentos, imagens reais, duras e cruéis. No capítulo de quinta-feira (25), destaque para o depoimento de Xuxa Meneghel. Nota 10. Todas as noites, 8h50, de graça, no Canal Brasil. 

[foto Reprodução/Canal Brasil]

MUDANDO DE CANAL

Conforme prometido, mudei de canal para assistir ao Jornal da Record, que não via há anos. Uma sensação estranha. O que achei? Um jornal meio Jornal da Band, meio SBT Brasil, meio Record News, meio Jornal da Cultura. Como todos os outros, falta ousadia para acontecer. São comportados, mais frios que o Jornal Nacional, uma tentativa de fazer mais ou menos igual ao líder de audiência. O JR não avança em furos, exclusividade, faz um resumão do dia. Não há criatividade nas pautas, na forma de chamar cada matéria. E ainda tem comentário de Augusto Nunes que continua na sua cruzada contra o Partido dos Trabalhadores. Seja qual for o assunto, Augusto parece ser pago para fazer críticas ao PT, partido que deixou o poder há mais de três anos.  Entendo a diferença entre as audiências, 30 a 8 pro JN. As pessoas preferem assistir o original. 

[foto Reprodução/RecordTV]

A TV QUE NÃO VEJO

Confesso que deveria assistir outros canais. Mas não assisto. Não assisto o Jornal da Record, não assisto o SBT Brasil, o Jornal da Band, o Rede TV News. Nada disso. Deveria assistir? Talvez. Não vejo o Domingo Espetacular, o Balanço Geral. Não sei quem apresenta os jornais da manhã dos outros canais, ou se existe jornal da manhã em outros canais. Não conheço os repórteres das outras emissoras. Concentro-me na Globo, confesso, e de vez em quando passo pela CNN. Quando inaugurou, achei que ia mudar de canal, pelo menos à cabo. Insisto em ver uma coisa aqui, outra ali. Erro meu? Talvez. Gosto da Globo? Assisto, sempre com um pé atrás, mesmo nesses tempos de oposição a Bolsonaro. Tenho críticas? Muitas. Sempre coloco aqui. Dia desses vou mudar de canal, só pra ver. Começando pelo Jornal da Record. Depois eu conto. 

 

OITO E MEIA

Havia um certo frenesi nas redes sociais no início da noite de quinta-feira (18). Gente até pensando em pipoca e cerveja só pra assistir o Jornal Nacional. Pareciam alemães se preparando pra ver o videotape daquele sete a um ou franceses para ver aquele três a zero. Os torcedores queriam ver, com todos os detalhes, a prisão de Fabricio Queiroz e a queda de Abraham Weintraub. “Hoje eu quero ver o JN” era o que mais se ouvia nas alcovas. Oito e meia chegou e lá estava o que esperávamos. Helicópteros acompanhando o comboio de carros pretos levando o Queiroz pro xadrez, o presidente da República olhando para o vazio enquanto o Abraham pedia um abracinho. Depois de tanto sofrer, valia a pena sentar e ver o JN trazer boas novas. O jornal mais visto do país pecou apenas quando exibiu a live do presidente da República, encapotado como se estive sentindo calafrios e dizendo que prenderam o Queiroz “sem um mandado de prisão”. Poucos minutos antes, o JN havia mostrado em detalhes o mandado. Voltou para a apresentadora, que não contestou e seguiu adiante. Faltou dizer que o presidente estava enganado e mostrar novamente o mandado de prisão, inclusive com arte.

 

TV JUSTIÇA

O telespectador já deve ter percebido que, por volta de nove e pouco da noite, o Jornal Nacional, o mais sintonizado pelos brasileiros, mergulha em um juridiquês que faz qualquer um se ajeitar na poltrona, pegar o celular pra checar zap, ligar o microondas, colocar os jogos americanos na mesa, enfim, descansar um pouco das notícias. Ontem, por exemplo, o JN beirou os cinco minutos de arte no ar, somando cada uma em várias matérias. O esquema é este: a notícia aparece na escalada e quando chega a sua hora no espelho, a cabeça da matéria já diz tudo: O ministro fulano de tal votou a favor. Ai vem a explicação do motivo pelo qual ele votou a favor, geralmente com imagens dos monumentos de Oscar Niemeyer. Em seguida, explicam, em arte, a decisão de cada ministro, cheia de juridiquês, com várias palavras em latim. Agora imagine um gol. O apresentador lê como foi o gol: Fulano pegou a bola pela esquerda, driblou um, dois e cruzou para o companheiro da direita, que ajeitou a bola no joelho e passou para o camisa 11 que chutou e acertou no canto esquerdo do goleiro. Em seguida, mostram o lance do gol e para finalizar entra em arte a súmula do jogo, com todas as palavras. É nessa hora que eu me ajeitaria na poltrona, pegaria o celular, ligaria o microondas e distribuia os jogos americanos na mesa de jantar. 

[foto Reprodução/TV Globo]

VI E GOSTEI

Todos os dias úteis, vinte horas em ponto, tem um novo programa na TVT, a televisão dos trabalhadores. Central do Brasil chegou para ser mais popular, mais coloquial, menos global. Um programa que vai estar na TVT e nas redes sociais, fruto da Frente Brasil Popular e Povo sem Medo. O seu grito é em defesa da vida, da democracia e dos direitos do povo. Apresentado por Paloma Oliveira, a estréia foi muito simpática. Vamos acompanhar. 

[foto Reprodução/TVT]

LUGAR COMUM

É comum a gente ver na tela da TV Globo, repórteres cobrindo uma crise na Venezuela, diretamente de Buenos Aires, um furacão nas Filipinas diretamente de Tóquio, uma manifestação no Boulevard Saint Germain diretamente da Terra da rainha. Os enviados especiais estão cada vez mais raros. Um posto em Londres cobre toda a Europa e um outro em Tóquio cobre toda a Ásia. É comum a gente ver o repórter fazendo sua passagem na porta da embaixada da Arábia Saudita, em Brasília, falando da crise do petróleo depois de um ataque a uma refinaria. Na semana passada, vimos um desses casos que ficamos em dúvida se era para enganar o telespectador ou uma lampejo de “criatividade”. O Jornal Hoje mostrou uma boa reportagem sobre a pandemia de coronavírus que está ameaçando os povos Yanomamis, caso não haja uma política para proteger os indígenas. Boas imagens, o repórter ia narrando com precisão. Mas, quando chegou a hora da passagem, ele aparece no meio do mato e o crédito: Vinícius Leal, Brasília. O que o queriam com isso? Enganar o telespectador, para parecer que ele estava lá no meio dos Yanomamis? Onde o repórter estava? No Parque da Cidade? Na periferia? Num acostamento de estrada? Não, num mato em Brasília falando dos Yanomamis, lá no Norte do Brasil, a bem mais de mil quilômetros dali. 

[foto Reprodução/TV Globo]

VI E GOSTEI

O Partido dos Trabalhadores reclamou da ausência de Fernando Haddad, já que na noite de domingo (7) reuniu para um debate, um presidente da República (Fernando Henrique Cardoso) e dois ex-candidados à presidência (Marina Silva, da Rede, e Ciro Gomes, do PDT). A Globo respondeu ao PT argumentando que Haddad já havia participado de outro debate. Mas, pensando bem, foi ele que disputou o segundo turno com Jair Bolsonaro e o assunto principal na noite de domingo, era o desastrado governo de Bolsonaro. Se fossemos dar nota, Ciro ganharia a melhor, seguramente. Mas, de qualquer maneira, a conversa foi boa. O que mais chamava a atenção era ver cada um dos políticos expondo os problemas do Brasil de uma maneira clara e objetiva. A cada fala lembrávamos do atual presidente, incapaz de formular uma frase inteira com nexo. Estamos pessimamente representados. 

[foto Reprodução/GloboNews]

O REPÓRTER SUMIU

Depois de passar dez dias vendo os repórteres da GloboNews marchando lado a lado com os manifestantes que protestavam contra a morte de George Floyd em várias cidades americanas, os protestos chegaram ao Brasil, que tem muito o que reclamar. Além do racismo que matou João Pedro, temos uma democracia correndo risco e o grito que estava preso na garganta, saiu: Fora Bolsonaro! Mas, se nos Estados Unidos, os repórteres estavam lado a lado com os manifestantes, inclusive entrevistando alguns, aqui a história é diferente. Os repórteres não chegam perto dos manifestantes, mostram imagens de helicóptero e quando estão em terra firme, não aparecem. Narram imagens feitas por cinegrafistas anônimos, certamente sem identificação alguma da Globo. O medo está no ar.

[foto Reprodução/GloboNews]