O SOL DE DOMINGO 26.03.23

Verdade. No dia primeiro de abril, o meu América entra em campo para disputar com o Atlético, o Galo, o título de campeão mineiro. E a primeira de duas partidas, ainda não é a finalíssima, mas estou tenso. Não sou de ficar tenso em jogo do meu Ameriquinha. O tempo me fez assim. Gosto do meu time porque gosto, desde pequenininho. A combinação de cores verde e preto, é a minha favorita, e o mascote do time, um querido. Já fui mais fanático. Antes de deixar o Brasil, era daqueles que ia ao Independência, numa quarta-feira chuvosa e fria, pra ver o meu América jogar. Às vezes enfrentar, o Democrata, o Metalusina, o Tupi, não importava o adversário, eu ia. Longe do Brasil, mais de dez mil quilômetros daqui, perdi contato com o meu time. Que jornal francês daria uma pequena nota sequer, do meu América? Le Monde? Libération? L’Aurore? Le Matin? Le Quotidien? Graças as inúmeras cartas que recebia, chegava uma noticia ou outra do Coelho. Eu tenho uma camisa do América no meu armário. De vez em quando saio com ela pra passear com o Canela. Em terras paulistanas, todos que passam por mim perguntam que time é esse. E eu pacientemente explico que é o América Mineiro, o meu América que sábado que vem enfrenta o Galo.

Ao iniciar uma palestra sobre biografias, um craque no assunto foi logo dizendo que é bobagem essa coisa de achar que a vida de um avô daria um livro, por se tratar de uma figuraça.

Ruy Castro foi surpreendido por uma garota na plateia que levantou a mão e disse:

– Olha, eu tenho certeza que o meu avô daria sim um livro!

Surpreso, o escritor e jornalista foi logo perguntando:

– Ah é? Quem era, como se chamava o seu avô?

E a garota disse:

– O meu avô se chamava Dorival Caymmi.

Algum tempo depois, fomos presenteados por uma biografia maravilhosa do autor de Maracangalha, chamada O Mar e o Tempo, assinada por Stella Caymmi, neta de Dorival, aquela garota da plateia.

Ao saber dessa história, comecei a pensar quem da minha família daria um livro.

MINHA TIA LILI, por exemplo, daria. Ela era aquela que tinha um relógio cuco na parede da sala, com um defeito há anos. Treze horas e treze minutos, se alguém não puxasse o pêndulo, o pêndulo cairia no chão e, quem sabe, o cuco nunca mais funcionaria.

Com isso, durante décadas, minha tia tinha de estar em casa precisamente às treze horas e treze minutos, todos os dias, para puxar o pêndulo do cuco.

Quantas vezes ela não estava almoçando na minha casa, engoliu a comida voando porque estava dando a hora de puxar o pêndulo do cuco?

É a mesma tia Lili que quando soube que pessoas com mais de 60 anos não pagavam mais transporte urbano, passava o dia andando de ônibus pelas ruas de Belo Horizonte para, no final do dia, fazer as contas de quanto economizou.

MEU TIO ZEZÉ também daria um livro. Foi aquele que, ao ver sua mulher, minha Tia Lourdes, ameaçar ir embora de casa e deixar pra trás os seis filhos pequenos, aproveitou que ela deu uma saída pra ir na padaria e se lambuzou todo de ketchup, deitou no chão da sala e ficou esperando ela voltar.

Meu tio Zezé quase matou minha tia de susto, mas o casamento deles nunca acabou, durou mais de cinquenta anos, graças ao ketchup, talvez.

MEU TIO CARLINHOS, o marido de tia Lili, também daria um livro. Ele conviveu com ela, diz a lenda, vinte e cinco anos, sem abrir a boca, sem sequer dar bom dia a ela. Tio Carlinhos era conhecido por ser sistemático, tinha um Renault Traction 1950 e a única foto que foi feita dele, foi logo depois da sua lua de mel, ele e minha tia, desfilando pela Avenida Afonso Pena.

MINHA TIA LILITA, ah… essa daria um belo livro! Separada do meu tio Ivo, foi apaixonada por ele durante toda a vida, mas jurava de pés juntos que não queria nada com ele, que o Seu Ivo havia virado um velho caquético, um bucho!

Aos setenta e tantos anos, sonhava com namorados imaginários e tardes de puro prazer em discretos motéis de uma Belo Horizonte ainda provinciana. Nunca vimos os seus namorados, mas ela jurava que eles existiam.

MEU TIO JOÃO, irmão do meu pai, daria um livro também. Solteirão, era uma espécie de ovelha negra da família. Amante de Piquitita, que todos da família torciam o nariz, tio João era uma fera. Minha mãe conseguiu criar os cinco filhos comportados porque ela sempre ameaçava, caso continuasse a bagunça, ia chamar tio João para dar um jeito na gente.

Tio João morava em Juiz de Fora e foi quando passou uma temporada na capital mineira, na nossa casa, que espalhou o terror. Ele tinha uma técnica de buscar cada filho desobediente escondido debaixo da cama, de medo, com uma vassoura de piaçava Horizontina, que até hoje tenho horror só de pensar.

MEU OUTRO TIO ZEZÉ, esse de Juiz de fora, desculpe Ruy Castro, era uma figuraça que certamente daria um livro. Ele era advogado, tinha uma verruga na cabeça e o seu maior prazer na vida era soltar pum. Toda vez que ia soltar um pum, imitava uma arminha com a mão e soltava um petardo. Foi ele que, na lua de mel, rasgou a saia justa da minha tia Helena, que não conseguia subir no bonde. Não pensou duas vezes, pegou uma tesourinha e abriu a saia de cima a baixo. Minha tia subiu no bonde e, muito envergonhada, só foi descer no ponto final.

Só para lembrar que SEU DIDI, caminhoneiro, pai do sociólogo José Henrique Bortoluci, que eu nunca poderia imaginar que daria um livro, deu um dos livros mais sensacionais dos últimos tempos. Chama-se O que é meu e já está nas livrarias.

[www.cartacapital.com.br]

 

O SOL DE TERÇA-FEIRA 14.03.23

 

O governo que está a seu lado

Ei, você aí, me dá um dinheiro aí…

Agora, Manaus

Benett na página A2

Estamos procurando, pelo menos uma coisinha, que o governo Bolsonaro fez certo

Paris, do luxo ao lixo

Abandonando o vício do celular

O adeus a Kenzaburo Oe

O adeus a Canisso

Chico Caruso, na primeira página

Toma lá, dá cá…

 

 

 

 

O SOL DE SEXTA-FEIRA 10 MARÇO 23

Com que roupa eu vou?

Enfim, para Cabral foi uma tempestade no copa d’água

O mar de lama

Harmonização facial

Por la unidad de la America Latina

Uma grande história

Devo, não nego. Pago quando puder.

O Estadão deixa o cavalo de ouro sem patas de lado para falar em cavalos de verdade

Ou a roupa encolheu ou o corpo cresceu. Com pouco pano para tanta carne, o terno preto expôs os pulsos, estrangulou a cintura, grudou nas coxas. Óculos pesados e gumex em excesso também não ajudaram. Aos trinta e oito anos, o governador biônico de São Paulo parecia ter cinquenta.

Nada demais, a estética pouco importava naqueles tempos estranhos.Sem pausas e apertando o microfone prateado na mão esquerda, o governador empilhou números.

14 meses de obras

3 quilômetros de viaduto.

300 mil sacos de cimento.

70 mil carros por dia.

37 milhões de cruzeiros.

Estamos em 1969, o governador biônico de São Paulo é Paulo Salim Maluf.

Vejo o jovem Maluf num documentário sobre a construção do gigante de concreto, ferro e asfalto: o Minhocão.

A inauguração em 1971 entusiasmou donos de Sincas-Chambord, Fuscas, Opalas, que partiam de vilas distantes e até de Santos e de Campinas “só para dar uma volta com a família e conhecer o viaduto de pistas largas.”

Na contramão, a obra sufocou a praça Marechal Deodoro e avenidas ajardinadas de Santa Cecília e Campos Elíseos.

Mais foi menos.

Mais barulho, menos verde.

Mais fumaça, menos gente.

Mais frieza, menos luz.

A estrutura gigantesca impediu que o calor do sol iluminasse as calçadas e pistas lá embaixo. Era o início da deterioração de uma das regiões mais vibrantes de São Paulo, o centro.

O elevado ainda era novato quando, num dia qualquer de garoa, nasceu o nome de guerra: Minhocão.

Grande, alto, sinuoso e – agora com o apelido – tornou-se íntimo da cidade. Logo a gente paulistana não lembrava mais o nome oficial, Elevado Presidente Costa e Silva, o general gaúcho que mandava prender e não deixava soltar.

Minhocão, isso sim era nome. Filho legítimo da sabedoria popular.

Sou vizinho do viaduto, ando nele por cima e por baixo. De bicicleta e a pé. Só e às vezes de mãos dadas. Se de segunda a sexta, a vista de carros é hostil para quem está nos prédios, de sábado a domingo olhar das pistas essas mesmas fachadas é se aventurar em outra cidade.

Quem me encara, lá de longe e do alto, é a antiga torre do Banespa com a bandeira paulista no topo; quem me atrai no meio do caminho, é o molejo do Copan, obra única do arquiteto das curvas; é, porém, outro prédio, com apelido de Copanzinho, que mais me encanta. Ele se chama Racy e também faz um “S” em 14 andares de suaves ondas cor de chumbo e janelas largas. A portaria de dois andares e escadas geométricas me paralisa pela ousadia do tamanho e desenho. São os metros finais da São João, de Vanzolini e de Caetano, do côncavo e do convexo.

Vejo mais na arquitetura corajosa de uma época de transformações. Prédios arredondados, outros triangulares. Há os de pastilhas coloridas e ferragens douradas e prateadas. São testemunhas de uma cidade orgulhosa do centro com seus teatros, cinemas, cafés e gente, muita gente. Hoje, assim como o centro, os prédios estão sujos, quase todos pichados, mas ainda respiram.

Também inspiram. Das janelas, em geral fechadas, brotam aos sábados e domingos, cantores, artistas, palhaços. Arte popular no palco de asfalto. Popular e de graça. O público – famílias, amigos e amigos de estimação – aplaude e pede mais.

Num dia pista pra carros em outro passarela de gente, o Minhocão imita cidade. É traiçoeiro, escuro, poluído e, ao mesmo tempo, saudável, divertido, democrático.

Ninguém sabe a data com certeza, mas já foi anunciado: o Minhocão será fechado aos carros. Pode virar parque, ser demolido ou desmontado.

Alguns moradores querem parque, outros torcem para que o vizinho, simplesmente, suma. Os que vivem embaixo do Minhocão, em suas calçadas imundas, não foram consultados. O que diria a multidão abandonada de carroceiros, desempregados e mendigos sobre o destino do viaduto mais famoso do Brasil?

*O escritor Luis Cosme Pinto é autor do livro de crônicas Birinaites, Catiripapos e Borogodó

**Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.

 

 

O SOL DE QUARTA-FEIRA 08 MARÇO 23

8 de Março

8 de Março

Sem Parar

Leandro Assis e Triscila Oliveira

Ladrão de joias!

8 de Março

Que vergonha!

8 de Março

8 de Março

Será Neymar caminhando para o fim?

O caderno de automóveis do jornal italiano La Repubblica

PARA LER:

https://www.newyorker.com/books/page-turner/luis-schwarcz-writes-about-depression-but-refuses-to-interpret-it

  

 

 

 

 

O SOL DE QUINTA-FEIRA 02 MARÇO 23

A cautela do governo

Noite escura em Buenos Aires

Bola Tinubu presidente!

O que vem a ser Moro?

A novela continua

Uma verdadeira tragédia grega

Chico Caruso, na primeira página

A cerimônia do adeus

O Estadão pondo lenha na fogueira

Gente esquisita

O exílio mais esquisito do mundo, visto pelo Le Monde

Na Folha

 

 

 

O SOL DE SEXTA-FEIRA 27.01.23

Abrindo as portas para nomeações

Lembra que Bolsonaro dizia que no seu governo não tinha corrupção?

Jaguar na página A3

Era uma mentira por dia

Copacabana Palace, quase centenário, se prepara para a festa

O Vaticano é aqui
TOMA LÁ, DÁ CÁ

The Beatles Forever

A gestão do extremista de direita Jair Bolsonaro (PL) diminuiu o acompanhamento médico de crianças Yanomami quando metade delas estava desnutrida. É o que apontam dados obtidos com exclusividade por SUMAÚMA. A redução no atendimento regular de saúde, que deixou crianças já fragilizadas sem acesso regular a médicos, é mais uma face do genocídio promovido contra a etnia pelo governo Bolsonaro. Também ajuda a explicar como, durante seus 4 anos de governo, pelo menos 570 pequenos Yanomami perderam a vida por causas que poderiam ter sido evitadas se houvesse assistência de saúde – um número 29% maior do que o registrado na gestão presidencial anterior, conforme revelamos em 20 de janeiro. Crianças com desnutrição são 9 vezes mais propensas a morrer de doenças como pneumonia e diarreia.

Os dados apontam que, em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, ao menos 2.875 crianças Yanomami de até 5 anos (49% do total) tinham peso abaixo do esperado para a idade – sendo 1.601 delas com peso muito abaixo, a forma mais severa de desnutrição. Em 2019, 90% das crianças do território eram monitoradas, e os dados de desnutrição foram os maiores já detectados desde 2015, quando o sistema atual de armazenamento de dados começou a ser usado. Diante deste nível de desnutrição, a ação óbvia seria investir em recuperação, prevenção e acompanhamento. O governo Bolsonaro fez o contrário. No ano seguinte, 2020, o número de crianças Yanomami acompanhadas passou a diminuir, revertendo a tendência dos anos anteriores. Em 2022, último ano de Bolsonaro, a proporção de crianças de até 5 anos acompanhadas caiu para 75%. Com isso, a taxa de desnutridos diminuiu nas estatísticas – 38% dos 5.861 Yanomami da faixa etária tinham baixo peso. É o que se chama de apagão estatístico: como não há acompanhamento, os números “melhoram”.

Entre o primeiro e o último ano da gestão do extremista de direita, pelo menos 876 crianças a menos foram acompanhadas regularmente. Em 2022, 2.205 dos 5.861 Yanomami de até 5 anos tinham peso abaixo do adequado, sendo 1.239 deles peso muito inferior do ideal. No entanto, pela falta de acompanhamento, o governo não sabe a situação nutricional de 1.494 crianças. É no acompanhamento médico que as crianças são pesadas, medidas e têm seu quadro clínico geral avaliado. Ele permite identificar, por exemplo, quando a desnutrição começa, para que a equipe médica adote medidas imediatas e tente reverter a situação. Sem isso, as crianças podem ser levadas a um quadro de desnutrição severa, que exige uma remoção urgente por meio de aeronaves, do território Yanomami até Boa Vista, capital de Roraima, onde há um hospital. No final do ano passado, as remoções emergenciais foram suspensas por 10 dias em parte da área Yanomami. O helicóptero, único meio de chegar em algumas áreas, quebrou. Lideranças relataram ao menos 8 mortes no período, um dado que mostra como a dependência nas remoções de emergência tornou-se grande no território, diante da fragilidade das estruturas de atendimento.

O garimpo é um dos principais fatores que agravam a situação de saúde no território. Durante a gestão Bolsonaro, ele mesmo um defensor da atividade ilegal em terras indígenas, a invasão de criminosos em busca de ouro aumentou na região, provocando uma explosão de casos de malária. A invasão dos garimpeiros sem qualquer oposição e repressão do Estado também dificultou o trabalho das equipes de saúde. Dados publicados em setembro por SUMAÚMA mostravam que os polos que fazem o atendimento médico de indígenas dentro do território fecharam por 13 vezes desde 2021 por conflitos causados pelos criminosos.

O polo da região do Homoxi foi um deles. Tomado pelos garimpeiros em julho de 2021, acabou transformado em depósito de combustível. A equipe de saúde que atendia ali teve que fugir. O local permaneceu nessas condições por mais de 9 meses, sem que o governo tentasse retirar os criminosos para reaver a estrutura, que pertence ao Estado brasileiro. No início do ano passado, uma operação contra o garimpo esteve no local. Logo depois de os agentes do governo irem embora, os criminosos voltaram e queimaram a unidade de saúde. Em 2022, nenhuma criança desse posto aparece como desnutrida nos dados governamentais. Isso porque nenhuma foi acompanhada por profissionais de saúde. Antes da invasão dos garimpeiros, 41 das 47 crianças menores de 5 anos da comunidade eram acompanhadas e 82,9% delas estavam desnutridas. O posto permanece fechado, 1 ano e 6 meses depois de ter sido tomado pelo crime.

Há outras regiões em que o garimpo provocou uma tragédia sanitária. No Paapiu, uma das mais afetadas pela atividade criminosa, 82,6% das crianças de até 5 anos que são acompanhadas estão desnutridas, mas apenas 23 das 45 crianças do local foram monitoradas em 2022. Em Aratha-U, outra área invadida, 77,9% das crianças da faixa etária têm déficit de peso, mas 43 crianças estão fora das estatísticas. No Surucucu, 68,8% das crianças estão desnutridas, mas 239 de 566 não foram acompanhadas em 2022.

Foi no Surucucu que o governo federal montou uma força-tarefa, no início da semana passada, para realizar atendimentos de urgência diante da situação de colapso sanitário, após um pedido de socorro do presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi), Júnior Hekurari Yanomami. Ele afirma ter pedido ajuda oficialmente ao governo Bolsonaro por diversas vezes, mas nunca foi atendido. Outra fonte que trabalhava na Funai durante o governo Bolsonaro, e que pediu para não ser identificada por questões de segurança, também afirmou que diversos pedidos de ajuda para os Yanomami foram feitos pelo órgão e negados. Reportagem do The Intercept de agosto de 2022 também revelou que a Hutukara, principal associação Yanomami, enviou 21 ofícios aos órgãos públicos ao longo de dois anos, pedindo ajuda por causa da violência provocada por garimpeiros no território. Foram ignorados.

Na última sexta-feira, 20, SUMAÚMA revelou que nos 4 anos do extremista de direita, 570 crianças de menos de 5 anos morreram pelas chamadas “causas evitáveis”, aquelas que poderiam ter sido evitadas se houvesse atenção de saúde. Parte delas morreu pela própria desnutrição. Outra parte por doenças que são agravadas também pelo baixo peso, como pneumonia, malária e diarreia. Os dados e as fotos da reportagem, com crianças e velhos em pele e osso, chocaram o mundo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve, no dia seguinte, em Roraima, onde fica parte do território Yanomami. O governo anunciou uma série de medidas para o atendimento urgente desta população, incluindo uma sala de situação, um hospital de campanha e a decretação de emergência de saúde pública, medidas adotadas em situações de epidemias.

Profissionais de saúde e lideranças afirmam que a situação de saúde no território nunca foi tão grave e que os dados estão subnotificados. Esta será também uma das conclusões de um relatório de especialistas, enviados à área Yanomami na semana passada para avaliar a situação do território.

Por diversas vezes, a gestão Bolsonaro argumentou que a pandemia de covid-19 foi um fator que dificultou o atendimento médico dentro da área, sem considerar que, justamente pela gravidade da doença, o contrário deveria ter ocorrido. Depois da repercussão das imagens dos Yanomami severamente desnutridos e dos dados de crianças mortas publicados por SUMAÚMA, Bolsonaro disse aos seus seguidores que a situação calamitosa dos indígenas era uma “farsa da esquerda”. Os dados divulgados na reportagem, entretanto, são públicos e constavam do sistema que seu próprio governo gerenciava na Secretaria de Saúde Indígena (Sesai). O extremista de direita e seus seguidores preferiram ignorar os números divulgados.

INFOGRÁFICO: RODOLFO ALMEIDA/SUMAÚMA

Difícil recuperação

Boa parte das crianças do território Yanomami vive em uma situação de desnutrição crônica. Ou seja, estão privadas de calorias e nutrientes necessários há anos. Isso impacta o desenvolvimento para toda a vida e, muitas vezes, a criança até tem aparência saudável, mas sua estatura é equivalente a de crianças muito mais novas, pois a ausência dos nutrientes prejudica o crescimento. Isso pode acontecer por diversos fatores além da ausência de uma dieta adequada, entre eles doenças frequentes, como malária e diarreia.

Até que seu território fosse demarcado, em 1992, os Yanomami enfrentaram também uma grande onda de invasão de garimpeiros, que foram expulsos no início da década de 1990 e começaram a voltar em 2014. O número explodiu em 2018 e estima-se que 20 mil deles estejam atualmente na área protegida. Antes disso, parte da Terra Indígena Yanomami já havia sido violada pela construção da estrada Perimetral Norte, obrada ditadura empresarial-militar (1964-1985), e pela entrada de missionários religiosos na região. Tudo isso expôs os Yanomami, um povo de recente contato com os não indígenas, a vírus e bactérias desconhecidas. Sem imunidade, parte da população foi dizimada.

O garimpo também prejudica a soberania alimentar dos indígenas, já que afasta a caça, contamina os peixes com mercúrio e, em muitas comunidades, está tão próximo que destrói as roças feitas por eles. A malária, espalhada pelos garimpeiros, também adoece os indígenas e os enfraquece, impossibilitando a busca por alimentos. Os acampamentos montados pelos criminosos no meio da floresta também jogam dejetos, como as fezes que eles produzem, no rio. Isso contamina a água que os indígenas bebem e usam para cozinhar e se banhar, o que provoca episódios frequentes de diarreia e vômitos.

As imagens publicadas por SUMAÚMA e por Júnior Hekurari Yanomami em suas redes sociais apontam também para a existência de quadros de desnutrição severa. São as imagens de costelas e ossos à mostra, recobertos apenas pela pele. O corpo já não tem mais gordura e começa a consumir suas próprias proteínas, como se estivesse se autocanibalizando. A pouca energia que consegue obter, usa para manter os órgãos principais, em especial o cérebro, funcionando. Este corpo, tão debilitado que passa o dia concentrado em sobreviver, não pode, sequer, ser alimentado normalmente depois de encontrar comida, ou corre o risco de se desequilibrar completamente, explica a pediatra-nutróloga Maria Paula de Albuquerque, gerente geral do Centro de Recuperação Nutricional (Cren).

“A abordagem dessas crianças desnutridas de forma muito grave não é nada trivial. A gente precisa nutrir essa criança de uma forma gradual e lenta”, diz ela. “Tem que ser uma dieta que a criança consiga tolerar. O intestino não está na sua melhor fase de absorção, tem uma mucosa que pouco consegue absorver os nutrientes. Se você joga muito nutriente nessa barriguinha, a chance de fazer síndrome de malabsorção, que é quando aquela barriga fica distendida e grande e provoca diarreia, é muito grande”, explica Maria Paula. Ela afirma que crianças gravemente desnutridas têm até nove vezes mais chances de morrer de doenças como pneumonia e diarreia do que crianças bem nutridas. “A desnutrição aumenta o risco de morte de uma forma muito expressiva”, afirma.

O governo Lula prepara a implementação de centros de referência dentro da Terra Indígena Yanomami, com nutricionistas para auxiliar na recuperação dos casos mais graves. De imediato, tem entregue cestas básicas nas comunidades mais afetadas, com a ajuda de doações que estão chegando de toda a parte do Brasil. O Exército agora ajuda neste trabalho de distribuição dos alimentos com suas aeronaves, o que não fez no passado: em 2022, 6.000 cestas básicas, de 18.000 unidades liberadas pelo governo Bolsonaro, deixaram de ser entregues na região porque não havia mais horas-voos disponíveis no contrato que a Funai tem com uma empresa de táxi aéreo. A falta de avião, que impediu que a comida chegasse aos Yanomami famintos, também foi avisada para o governo, de acordo com a fonte da Funai ouvida pela reportagem. Tornou-se mais um pedido ignorado na construção do genocídio Yanomami.

Todos os anos, na abertura do Festival de Quadrinhos de Angouleme, o Libération entrega aos quadrinistas, o fechamento de sua edição. O resultado é sempre surpreendente. 

Ouvi mais de uma vez: o Caribe brasileiro mora nas águas mornas e límpidas de Alagoas. Discordo.

O turquesa de São Miguel, Maragogi, Milagres e Japaratinga é muito, muito mais belo. Não sei se pelo sotaque dos jangadeiros, pelo sabor do agulhinha, pela elegância dos coqueiros; talvez a resposta seja tudo isso temperado com a branquíssima areia fina, a vegetação dos mangues e restingas, a brisa fresca; não esqueçamos da correria dos caranguejos, da revoada das garças vaqueiras, da chegada dos pescadores.

Então, por justiça e gosto, digo e assino embaixo: o Caribe pode, sim, ser chamado de as Alagoas da América Central.

Mar como o da terra de Djavan, Nise da Silveira e Cacá Diegues, para mim não há. Que cubanos, venezuelanos e outros vizinhos latinos do lado de lá do Equador, me perdoem se exagero. Tenho meus motivos e eles são além mar.

Quanto mais visito mais me encanto com as Alagoas. Penedo, no interior, é vistosa com seus palacetes, catedrais, teatro e cinema. Tudo muito bem preservado e tombado, como deve ser. Agreste próspero na beira do São Francisco.

No sertão, verde com o carinho da chuva farta de 2022, a euforia de Piranhas. A capital do cangaço se orgulha em contar as aventuras de Lampião e Maria Bonita. História ilustrada e documentada no museu dos cangaceiros, nas pinceladas dos artistas populares – parabéns ao seu Rubério – e em passeios guiados entre mandacarus e xique-xiques.

O turista também se surpreende, ou se encanta, com um símbolo da gentileza alagoana, expressa no convite de sempre.

– Senta, por favor.

A gente chega cansado de pisar na areia fofa, com panturrilhas latejantes de subir escadarias  ou encharcado de suor pelo calor sertanejo e, claro, aceita.

Então, como diz o título da crônica, tome assento porque lá vem história.

Não cabe suspense ou mistério. Quero falar a você do móvel que nos acolhe quase tão generoso como a gente alagoana: a cadeira. Não, não é qualquer cadeira.

Cadeiras de plástico, as mais baratas que existem. Leves, práticas e que se multiplicam. Talvez pela crise, talvez por ser fácil de transportar, ou por que deu vontade de comprar, elas são um sucesso.

Quatro pernas todas têm, daí pra cima os estilos são tão variados quanto os arbustos da caatinga. Algumas arredondadas, outras miudinhas; têm aquelas mais altas, de encosto grande e ainda as quadradas, um tico mais espaçosas.

Com braços largos para descansar os cotovelos? Têm.

Com assento reforçado, que suporta senhores pesados, mulheres grávidas e criançada grande no colo da avó? Ô se têm.

Cores disputam preferências. Da branca nenhuma ganha. Depois, quase empatadas, vermelhas e amarelas.

Verdes e azuis, a gente também encontra. Menos, mas encontra.

Se prestar atenção, você vê na beira da estrada, no posto da Polícia Rodoviária, na barraca de amendoim e garapa.

Nos vilarejos, a gente enxerga embaixo da mangueira, sob o sol escaldante do verão com gente bronzeada ou na fila do Bolsa Família.

A cadeira é estrela na mobília dos ribeirinhos e no salão de sinuca; nos quiosques da praia e nos restaurantes. Desafia sol e maresia.

É nela que sentamos para saborear a moqueca de Cioba, o churrasco de bode, a cocada de forno.

Bem recostado, seu Jaime, craque da sanfona, brinca de Sivuca e Domiguinhos. O neto vê fotos da namorada, quase deitado numa vermelhona e com os pés espalhados numa verde limão.

Discute-se política, trabalha-se com artesanato, torra-se farinha, namora-se…onde tem gente lá estão elas.

Também se toma assento para explicar os mistérios do futebol e dar um palpite cada vez mais comum entre o mar e o sertão.

– Nem CRB, nem CSA, este ano o campeão vai ser o Asa de Arapiraca.

Na capital Maceió, visite a periferia de calçadas estreitas e veja com seus olhos: é cadeira de plástico que não acaba mais.

Nos apartamentos chiques da Pajuçara o visual é diferente. As cadeiras são de cedro e até de pereiro, árvore de madeira dura muito comum na caatinga. Porém, não é delas que falamos. Não é nelas que sentamos.

Nestes mesmos prédios, peça para olhar a guarita, o quarto de descanso do zelador, a garagem. Adivinhe o que vai encontrar?

No salão de beleza da Fagna, na lotérica do Ednilson e na pizzaria do Jeferson ninguém espera de pé.

De manhã, à tarde e à noite, passam o picolé de cajá, o milho cozido, o queijo coalho e a raspadinha. O povo compra, paga e come sem levantar o bumbum da cadeira.

Não pense que a regra é do descanso ou da preguiça. Alagoano que trabalha muito sabe aproveitar os intervalos. Quem vê sentado enxerga melhor, lição que logo se aprende nesse cantinho refrescado entre salgado do atlântico e o doce do São Francisco.

Na igreja, sessenta e quatro cadeiras, todas brancas, limpas e bem perfiladas esperam os irmãos. Na calçada em frente, outras quatro cercam a disputa do dominó regado na pinga da terra, em outra três jovens dividem um cigarro.

O céu rosado avisa que a farra do dia acabou, é quando a caminhonete acelera com uma churrasqueira, cinco mesas e vinte cadeiras de plástico. Vai ter alegria e forró em algum recanto do sertão e quando o povo cansa, toma assento que a cerveja gela e a prosa esquenta.

 

O SOL DE SEGUNDA-FEIRA

O brilho da estrela

Bem Folha!

OSOL – literalmente – não entendeu o cartum de Montanaro

O adeus a mulher que inspirou Chico a compor a canção O seu pai não gosta de mim, mas sua filha gosta

Só dá ele!

A volta do Bolsa Família

Tudo azul!

Bem Estadão!

Na capa da revista de fim de semana do jornal italiano La Repubblica, a Copa do Mundo mais louca de todos os tempos

No Globo

Curioso o título da Folha de S.Paulo

 

O SOL DE TERÇA-FEIRA

Na foto em destaque na primeira página, Casemiro, a alegria do povo

Pra não dizer que não falamos de política

Benett na página A2

Duas fotos espetaculares No Globo, registram a comemoração do único gol brasileiro ontem

O brasileiro queria ver mais gols

Cantinho da política

A politica na manchete principal

Bola na rede!

Cantinho da política internacional